ENTRE O CAPACHO E A DIGNIDADE




Trabalharam juntos por duas décadas: inseparáveis, embora todos se entreolhassem abismados com o grau de hostilidade de um lado e a passividade do outro. No entanto, a estranha sensação não durava muito tempo. Pessoas revelam sua personalidade ainda mais rápido nestas relações onde o poder corrói a noção ética: a consciência do valor e respeito que temos por nós mesmos e pelo outro.


Inúmeras vezes essa linha, tão clara em pessoas civilizadas, se desmancha a olho nu. E somos "obrigados" a conviver com a distorção perversa, em ambientes de trabalho, onde quem ocupa a posição hierárquica superior, utiliza-se deste suposto "poder" para exercer a truculência moral.


Tenho a impressão que o assédio que possamos sofrer (ou provocar) parte do mesmo princípio das relações sadomasoquistas: o passivo (ou submisso) confere legitimidade ao seu agressor. E sempre que aceita o comportamento abusivo, o reforça.


Alguém poderá dizer que é fácil falar (e ainda mais simples, escrever):


- Temos bocas a alimentar em casa! Emprego não se encontra em qualquer esquina (assim como a dignidade e o respeito perdidos).


Quando observar uma cena de violência, onde exista uma segunda opção, por mais difícil que seja, além da "escravidão consentida", pergunte:


- Ser capacho é uma escolha?


As possíveis respostas para esta indagação não serão encontradas nesta crônica. Meu texto não busca responder coisa alguma. Na verdade é apenas um pretexto para formular a questão. E pensar sobre ela.


Pensar não dói. Ser tratado como um capacho, sim.



P.S.: Qualquer semelhança com o mundo profissional corporativo não terá sido mera coincidência
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(*) IMAGEM: Google

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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 14/12/2009
Reeditado em 14/12/2009
Código do texto: T1978067
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