Doce de coco e Doce de pêssego

2002

Elas serão para sempre inesquecíveis, em suas atitudes,

em suas palavras, em seu modo peculiar de ser...

Já faz um ano; elas se foram...No sábado minha madrinha,

prima de minha mãe, despediu-se deste mundo. Muitos aqui

em Franca a conheceram. Era elegante, como a loja que pos-

suiu ali na Voluntários da Franca: A Elegante, há muitos anos

atrás. Foi sem dúvida para mim, um exemplo de mulher. Do-

ce, educada, amorosa com os filhos, parentes, conhecidos.

Até o final de sua vida, fez com as próprias mãos, paleto-

zinhos de lã de crochê que doava para bebês carentes, e sei

que esta era uma entre várias atitudes cristãs que ela desem-

penhava com louvor.

Gostava quando ia visitá-la, geralmente na época do Natal.

Encontrávamos minha tia sempre arrumadinha e perfumada,

bem disposta. Tinha muita alegria em receber as visitas e pre-

senteava a nós que éramos afilhadas com mimos delicados,

muitas vezes cristais...

Foi esposa carinhosa, apaixonada até o último dia de sua

vida. Seu esposo muito amado por todos, também partiu há

poucos anos.

Estive com uma conhecida por ocasião de seu velório e ela

me disse algo com que eu concordo plenamente: Ela era um

doce de coco! Saudade, tia Lygia, terei sempre!

Uma semana depois, Tia Mehiga também partiu.

Meiga era sua atitude diante da vida. Ela era irmã de

meu pai, os dois muito parecidos, os traços, a altura...

Era uma mulher forte, casou-se com um primo, as mães

eram irmãs; família Falleiros, oriunda de Patrocínio Paulista, cida-

de-irmã.

Foi uma pessoa dedicada aos filhos, à família, à comunidade.

Sempre arrumava um pratinho de comida para algum necessitado

que batesse à porta.

Amava as flores, as plantas, seu jardim magnífico possuía uma

diversidade interessante de espécies, as orquídeas eram sem dú-

vida as mais bonitas. Ela cuidava de todas com carinho maternal.

A vida fez com que passasse por provações grandes, difíceis.

Perdeu quatro dos seis filhos que teve, mas tanto ela, como meu

tio eram pessoas talhadas por Deus com um material que aos meus

olhos parecia sobre-humano. Seguiram suas vidas com força

redobrada cuidando das filhas e dos netos.

Amei muito a ela e a meu tio que também já faleceu.

Eles foram exemplos de bondade em minha vida. Adorava ir vi-

sitá-los na fazenda em Miramontes, quando vinham aqui passar

as férias. Ah! as jabuticabeiras, a lareira, os laranjais, o curral,

a imensa árvore, onde brincávamos ao lado do jardim, depois

o lanche gostoso: Pão caseiro, rosca, queijo mineiro fresquinho,

o café cheiroso e os doces que ela se esmerava ao fazer!

Ela estava exatamente fazendo doce de pêssego quando uma

trombose desencadeou um quadro irreversível.

Um doce de coco e um doce de pêssego; elas tinham oitenta

e sete e oitenta e oito anos respectivamente. Continuarei amando

as duas eternamente!

Adria Comparini
Enviado por Adria Comparini em 14/12/2009
Reeditado em 27/06/2010
Código do texto: T1977969
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