Buda Tinha Razão...
 
            Buda, ao atingir a plenitude da sabedoria, asseverou que o caminho que pode nos alçar à felicidade é o do meio, ou seja, do equilíbrio. Evitar os extremos é uma conduta sábia de moderação que pode nos evitar grandes infortúnios.
            Testei na carne, ou melhor, no bolso, a verdade da premissa. Tendo queimado o farol do meu carro, tratei logo, visto ter que viajar na madrugada no dia seguinte, de ligar para a concessionária procurando saber do valor da pequena lâmpada:
            - R$ 80,00. – Disse o atendente.
            - Como?
            - R$ 80,00. Incluindo a mão de obra.
            - Melhorou... – Respondi a voz miúda.
            - E o senhor tem que agendar o atendimento...
            - Não vai dar. Tenho urgência. – Desliguei antes que me cobrasse pela ligação e pus o veículo na rua em setor comercial na busca pelo meu Graal que de santo nada leva. Em uma movimentada loja o atendente quase me fez rir de modo mortal ao anunciar o preço:
            - R$ 6,00. – Tive que perguntar por 3 vezes, negando-me a quase não aceitar aquele decreto da verdade.
            - O senhor pode trocar? – Afirmou que sim, mas o preço subiria para absurdos R$ 10,00. Topei na hora. Tentou, tentou, começou a transpirar e percebi a sua imensa dificuldade ao decretar:
            - Não encaixa. Vou ter que desparafusar o farol. – Não conseguiu desparafusar. Olhou com ar de desespero. Senti-lhe o pânico. Pediu ajuda a um amigo mais experiente. Novo fracasso. Conversaram em tom baixo, quase inaudível.
            - Acho que vamos ter que desmontar a lateral para remover o farol. É muito complicado. – Fiquei atônito. Eu mesmo tentei colocar a peça e percebi que realmente não encaixava.
            - O serviço vai demorar quanto? – Diante de uma imprecisa resposta, achei melhor trocar a peça em outro lugar alegando compromisso urgente.
            - O Senhor vai levar a lâmpada? – Educadamente afirmei que não. Seria melhor, diante de tamanha complicação, reclamar diretamente na Concessionária. O atendente ficou decepcionado e sentindo o pesar de deixar partir uma venda.
            Em uma loja próxima, perguntei se tinham a lâmpada e se sabiam trocá-la naquele modelo de veículo. Afirmaram positivamente.
            - O Senhor vai querer a lâmpada original ou a ¨genérica¨?
            - Qual a diferença?
            - A original dura mais, já a genérica... – A original me custaria R$ 26,00 e a genérica R$ 10,00.
            - Quero a original.
            Em poucos minutos um jovem trocou a lâmpada diante dos meus olhos arregalados. Contei-lhe a façanha da outra loja.
            - É a experiência... – Afirmou de modo triunfante. Parti feliz com meu veículo acendendo seus faróis a pleno vapor e convicto de que, pelo menos nas questões mecânicas, Buda tinha razão...