Rio e prudência

Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 2009.

“Estranho seria se eu não me apaixonasse por você...”. Este é o verso que inicia a canção “All Star”, de Nando Reis, que foi apresentada ao mundo na voz de Cássia Eller. Isso foi depois de ela falecer. Todas as pessoas deveriam conhecer essa canção na voz da Cássia.

É assim mesmo. Soa-me estranho não se apaixonar por aquilo que é misterioso e ao mesmo tempo revelador, conflituoso e harmonioso, amedrontador e também encorajador, pleno de diversos cacos de violência simbólica e também salpicado de carinhos e afetos múltiplos. Carinho apaixona.

O Rio é uma dessas coisas apaixonantes. No entanto, aquela pequena, suave e bem equalizada voz da razão – voz pequena que sai do grande corpo – recomenda prudência. O Rio e vários outros caminhos requerem prudentes alfinetadas de verdade (mas, de qual verdade falamos?). Eu aceito a recomendação de prudência da mesma forma que aceito a vida e seu grande absurdo e maravilha incontroláveis. Aceito. O que não quer dizer que me desapaixono.

Vejo o Cristo noturno da janela do apartamento. O Cristo não tem nada de apaixonante, pois ele não carrega em sua gênese a essência da “maravilha mutante”. O Cristo é duro. E as coisas de verdade, as pessoas de verdade, são moles. E se apaixonam. E são, por isso, lindas.

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