CAMPO MINADO DE AMOR

Essa poderia ser uma história inventada, poderia ser ficção, no entanto, é realidade. Assim como tão bem trilhou o caminho da vida como ela é, por nosso saudoso escritor Nelson Rodrigues, tentarei fazer o mesmo, porém com viés diferenciado, o que tenho a narrar é puramente o campo minado de amor. Amor incondicional de filho por mãe.

Eis que certo dia, uma cunhada muito bem intencionada convence a todos da família, em especial, a esposa de seu irmão, já há tempos falecido, para ir consigo, morar na cidade do Rio de Janeiro. Ressalta-se tratar de família não provida de recursos financeiros, na casa viviam 08 (oito) irmãos e dois netos. Com um detalhe peculiar do convencimento é que, tal cunhada disse a todos que morava ao lado de uma igreja, e com isso, poderiam ficar despreocupados que a mãe deles, sempre, iria à missa, sua paixão semanal. De início, seria um teste para aquela mãe, ficaria apenas um mês, se gostasse, poderia ficar mais tempo. Então, não houve como contraditar. Tudo pronto partiu para o Rio de Janeiro.

À época, eu contava com uns 25 anos, ante o desaparecimento daquela Senhora, por tratar-se de uma pessoa que sempre fez parte de minha infância e juventude, haja vista que morávamos no mesmo bairro, na cidade de Ibirité - MG, certo dia perguntei a minha mãe, o que havia ocorrido àquela Senhora - minha mãe, então, respondeu-me:

"... meu filho, a cunhada daquela Senhora sempre foi uma megera, desnaturada, imprestável... quando aqui morou por uns tempos, quando ainda vocês eram crianças, manipulava a todos daquela família e, quando as crianças choravam, seus sobrinhos, colocavam todos pelados e batia com vontade, com um vara de marmelo, em suas bundas. E mais: as crianças só comiam o que ela dava, que era uma merreca de nada, gostava de ver os outros sofrerem, tirava dali um sórdido amálgama para seu desejo de masoquista..."

Confesso que diante de tais informações fiquei surpreendido. Sempre gostei daquela Senhora, que por muitas vezes, inclusive, muitas vezes dava-lhe carona para irmos à missa.

Pois bem. O tempo se passou. Já havia 07 (sete) anos de ausência daquela mãe perante seus filhos. Acredito que, por não terem condições financeiras satisfatórias, não iam visitar sua mãe e, lado outro, o mesmo ocorria.

O engenhoso e perspicaz tempo, deu um jeito. O filho mais novo daquela Senhora havia marcado seu casamento. E o detalhe: a sua futura esposa, moça muito bem provida de recursos financeiros, solicitou ao seu noivo que sua mãe comparecesse. O filho, então, ligou para sua mãe. Assim dizem algumas pessoas mais próximas àquela família, que quando a tia ficou sabendo, disse que talvez a mãe dele não poderia vir, estavam passando por dificuldades financeiras. Então, o filho e sua digna noiva foram buscar a mãe uma semana antes do casamento. Quando lá chegaram, não acreditaram: a mãe era uma verdadeira escrava de sua tia. A mãe havia contraído uma doença degenerativa, estava bem diferenciada. De imediato, o filho pegou sua mãe, trouxe-a de volta ao lar que havia sido lhe subtraído por falsas e vãs promessas. Contou a todos irmãos o que estava se passando com a mãe deles.

E com um gosto de heroísmo, a partir de então, aquele filho recém casado, tornou-se mais que protetor de sua mãe. Não admitindo de espécie alguma, que a maltratassem. Hoje, segundo minha mãe, dá gosto ver a comunhão de filho-mãe, de tão carinhoso e dedicado. Ademais: diz que há também uma fraterna comunhão entre nora e sogra, rompendo com alguns ditados populares.

Eis que o amor não escolhe campo para brotar. Brota-se em qualquer lugar em que haja espaço para aflorar.

Clovis RF
Enviado por Clovis RF em 13/12/2009
Código do texto: T1976482
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