Crônica para Raul Cortez


19/07/2006 17h26
Crônica para Raul Cortez
Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Cremado,a pedido,Raul Cortez parte para uma outra dimensão deixando um legado de talento.
O olhar inteligente,ar muitas vezes irônico,uma timidez velada-ém junho de 2005,quando desfilou no São paulo weeck Fashion,dava para ver o rubor crescendo,do pescoço ao rosto,enquanto desfilava,a a natural vaidade de todo artista,sendo recompensada,gratificada depois por cerca de dez minutos de aplausos.

Já o vi ,quandorepórter,e o entrevistei,num desfile de modas ,da Fênit,chamado \"Momento 68,em Juiz de Fora,mas então,não estava a desfilar, mas a declamar poemas,acompanhado por Walmor Chagas,este com a basta e prateada cabeleira a brilhar e Raul,precocemente calvo.Ambos com as treinadas e empostadas vozes de ator, a tocar minha alma jovem.Eu fôra lá fazer uma reportagem(o desfile acontecia no Sírio e Libanês de Juiz de Fora,o quenarro em \"Nas Velas do Tempo:memórias de Uma repórter na Ditadura\",feito e-book pelo webmaster Lourivaldo Perez Baçan.Nesse show,cantavam Caetano e Gil,bem jovens,Eliana Pittman.

Sempre me impressionou a maneira de ser desse artista.
Sua filha, Ligia Cortez, deu-lhe a alegria de ser atriz.Lembro sua capacidade de rejuvenescer com a paternidade temporã quando Maria nasceu,os sorrisos que as objetivas captavam quando estava com a garotinha...

Esse paulistano que nos deixou com mais de sete décadas de existir com talento e arte,transitou pelo teatro,Cinema e Tv.Na telinha,\"Água Viva foi de sucesso pleno,colocada em livro com fotografias e tudo...Ator não tem idade de alma,tem identidade de alma.Mas,mais velho,ao interpretar o velho Berdinazzi(em \"O rei do gado\"),fez-se ainda mais entrado em faixa etária,patriarca italiano,ora comovía,ora irava o teleespectador,ora levava às gargalhadas,com sua perfeita interpretação do turrão ,personagem ao qual depois é,pelo autor,traído pelo amor tardio- e se adoça,numa cena de amor entre idosos,memorável.

Sem medo de ousar,Raul fez ,em \"Os Monstros\"(1969)um travesti e foi o primeiro aor masculinoa aparecer nu(em o Balcão),no ano seguinte.
Estudantes,foi levado por outro grande ator,Ítalo Rossi,ao teatro paulista do Estudante.Seu pai jamais assitiu a uma peça sua,ao que Raul Christiano Machado Cortez teria respondido com aquela sua ironia fina, que o genitor não sabia o que estava perdendo.essa autoestima,fruto de uma cuidadosa percepção da opinião pública e do perfeccionismo,não relevava que quase a carreira foi por água a baixo,quandoprecisou fazer um duo com a talentosa Cleyde Yáconis e ficou...mudo,por conta do nervosismo.Somente depois de ,em \"A Morte do caixeiro Viajante\"(a conhecida peça escrita em 1949,por Arthur Miller,que já teve inúmeras montagens),representado \"Biff\",no lupar de Leonardo Villar,é que voltou a conquistar um lugar.
Raul Cortez ,apesar,alto e elegante,não tinha um rosto de traços marcantes,e sim clássico,mas de tal forma incorporava seu protagonismo,que ganhava facies vários,ao olhar de quem o assistia.
Fez um soberbo Rei Lear,sob a direção de Ron daniels.Lear era um personagem que estava em sua meta e de tal forma se integra,que Daniels comenta a interpretação de raul Cortez,ao dizer o quanto houve momentos em que Raul \"deixa de ser ator e passa relmente a ser o personagem\".Na é´poca da Ditadura,raul,com outros aritstas,participou das frentes de resistência. A Editora Civilazação Brasileira possui registros da palavrarma desses brasileiros corajosos,em busca da legitimidade de sua liberdade de expressão.Com ele,outras vozes igualmente fortes e verdadeiras:Raul Cortez, Eva Wilma, Walter portella,Cacá Carvalho, entre outros.Os chamados \"Cadernos da Civilação Brasileira\",enfrentavam a censura, transgrediam quando publicavam , em papel de boa qualidade,as fotos dos que usavam o que eu chamava e chamo de palavrarma.Mas não arma criminosa,e sim ,a que defende,a que desfralda bandeiras,a que voa e atinge quem não é tão ousado ou estava amordaçado,impossibilitado em porões militares ou calados para sempre.As cabeças dos artistas e dos intelectuais,falaram pelos brasieliros.Raul,um deles,o que hoje os jovens talvez não saibam.Aquele que deveria ser advogado,mas foi atraído pelo canto de sereia boa,das artes Cênicas.E tornou-se um encantador,ele próprio...
Muitos prêmios, como o Mambembe, o Molipére, o APCA...Muitas entrevistas e uma vida plena de dignidade,coragem,talento.
Aplausos para o que se vai.O que nos deixa,tendo marcado,para sempre,seu lugar ,mas na lembrança,nos registros,pela personalidade e pela capacidade de interpretar,um dom que aproveitou até a última gota...

Belo Horizonte,19/07/2006


Publicado por clevane pessoa de araújo em 19/07/2006 às 17h26
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