25 CRÔNICA NATALINA

O Natal é e será sempre uma festa. Festa de luzes e cores para os nossos olhos; festa de alegria e emoções para o eloquente silêncio dos nossos corações. Numa palavra, o Natal é uma esplêndida quermesse, em geral quermesse bem perdulária.

Sendo muito antigo, o Natal é uma tradição cristã que se renova há mais de dois mil anos. E, porque se renova, está sempre em voga, é muito óbvio. Isto é fantástico: manter-se algo novo, sempre, emergindo lá do fundo das águas do tempo. Cada ano ele traz o sabor de ainda mais novidade. E nos evoca o bimbalhar de sinos, as barbas de neve do Papai Noel e o nascer do Deus-Menino, este um Menino-Deus sempre com toda aquela imensa ternura e simplicidade. Imagino que até um fervoroso ateu mantém altíssimo elo de carinho com a figura do Filho do Carpinteiro.

Sobretudo, e acima de tudo, nesta grande data da cristandade, o que não podemos nem devemos deixar de vislumbrar para o nosso mundo maluco, aqui e agora, é a bendita paz mundial. Mas também a paz de espírito, no recôndito de cada um de nós, assume papel relevante. Daí tantos votos e apelos de paz e felicidades por volta desta data mágica.

Assim, vamos torcer juntos para que a tão desejada paz, a partir do Ano Novo, que já lá se avizinha, flua e reflua, jorre pelas bordas dos horizontes e se derrame sobre nós e sobre as cabeças dos nossos familiares. É imperativo que ela cresça e se agigante também dentro do coração dos “outros”, aqueles que estão ao nosso derredor. Enfim, é preciso que a paz se alastre dentro do peito de cada qual dos passageiros do nosso trem da Humanidade. A concórdia, sem dúvida, cimentada no respeito mútuo e na solidariedade – inclusive respeito mútuo entre a comunidade das nações – será sempre a pedra angular sobre a qual repousa firme a euforia natalina. Por isso, data universal; todos os Estados do globo registram seu Natal.

Com efeito, união e solidariedade são, verdadeiramente, a praxe e a finalidade mesma deste molde mítico-religioso de evento: o evento da vinda de Cristo, um acontecimento da vida. Aqui e agora, unidos e irmanados pela inteligência celestial, precisamos enterrar, soterrar na vala do esquecimento as nossas possíveis ou eventuais divergências, e querelas e disputas interpessoais e internacionais. Não sou um rezador, mas ocorre agora lembrar-me de um jargão da Igreja que dizia assim: “A família que reza unida, unida permanece.” Pois assim seja! Rezar, aqui, não significa apenas rezar mesmo, mas unir forças, ideais e sonhos, em busca de uma meta em comum. Por exemplo, o próprio bem-comum, a felicidade das pessoas e bem a ser exercido, em prol do “tu” social.

No contexto universal, onde, em tese, vivemos e trabalhamos com iguais direitos e deveres, mantendo interesses afins, nós somos também uma família global. Em tese – repito eu – somos passageiros de um mesmo barco. Justificam-se as guerras e gritantes desigualdades? De modo algum. Justifica-se a destruição do Planeta, para simplesmente dele auferir-se o estrondoso lucro que destrói o viver humano e dos seres vivos em geral? A resposta eu lhes repasso como reflexão.

Infelizmente há os que mercantilizaram o Natal, transformando-o num pregão da Bolsa de Valores ou no toma lá dá cá de uma gigantesca cadeia de lojas do capitalismo e do imperialismo. Nós, que nos confraternizamos por estes tempos luminosos e sonoros, com luzes matizadas à vista e belas cantatas de madrigais aos nossos ouvidos, agora, fazemo-lo com o coração totalmente desarmado, sem prevenções, isentos do voraz apetite com que se costumam engolir entre si os que, pouco solidários e rancorosos, se embatem no ‘ring’ da vida. Aqui, no seio dos nossos lares, ao contrário, hoje, sob as bênçãos do Natal, temos coexistência pacífica e cultivamos objetivos comuns. Meio agnóstico, eu, mas até recebi e também enviei cumprimentos natalinos, como todos o fazem, por esta época.

A competição, se ela existe, entre nós, pelo menos ao pé do luzeiro da árvore de Natal, é o embate do congraçamento, a competição da distribuição gratuita de boa vontade; é a competição da crença em um Ano Novo melhor, apesar da corrupção que impera e dos baixos salários de quem trabalha, sem exceção alguma. Seja como for, apesar das inumeráveis adversidades que a vida diariamente se nos apresenta, por favor, tenham comigo a bondade da indulgência, gostaria de poder continuar sonhando sempre com melhores dias para todos e a tão almejada felicidade, ainda que tardia e recolhida do caos político-social, fosse por todas as pessoas da Terra compartilhada. Felicíssimo Natal e muito próspero Ano Novo, povo meu!

Fort., 13/12/2009.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 13/12/2009
Reeditado em 02/03/2010
Código do texto: T1975270
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