Sirvam-se da paixão e do amor.
Nasce da falta e se veste de cobiça quando é paixão, aquele estado inebriante que arrasta os apaixonados em forte correnteza.
A paixão é doçura e amargor, é alegria e tristeza, é ansiedade e saudade ao mesmo tempo, é também alento e desalento, e, com certeza, fuga da razão.
O ser apaixonado alimenta-se do objeto de sua paixão, pois o amor aqui beira o egoísmo, porquanto decorre da fome.
Não jogo pedras nessa antropofagia, uma vez que se trata de uma experiência riquíssima em si e que ainda tem o poder de levar a um amor mais amadurecido na mesma relação, mas desconheço paixão que dure muito, sem causar sérios danos, quando não transcende ao amor.
Felizes os que experimentam o amor elevado, banhado em Eros, fonte do amor romântico, mas já com as águas de Philia, palavra grega relativa à amizade na visão de André Comte-Sponville.
É quando se instala a vivência do amor benevolente, terno e doce. O amor onde o bem-estar do outro interessa tanto quanto o próprio.
Trato agora do amor que ampara, que associa, que acrescenta e nada tira, o amor que ultrapassa o ego e que por isso não esmaga o eu do ente amado, ao contrário, o valoriza.
O bom mesmo é que na verdade paixão e amor não se enquadram em teorias e não cabem moldes: cada um vive a sua experiência.
Melhor ainda é saber que ambos promovem surpresas. Algumas não muito alegres, mas, a maioria, graças a Deus, é, no mínimo, nutrição em forma de maná. Portanto, sirvam-se!
Evelyne Furtado, 12 de dezembro de 2009.