VIOLÊNCIA, POR QUÊ?!

*Alguns fatos históricos convidam aos diversos segmentos para uma profunda reflexão a respeito do comportamento dos povos diante de situações extremas.

Muitos professam que a intolerância, vingança, radicalismo, fanatismo e fundamentalismo são frutos do subdesenvolvimento e miséria. Entretanto, em diversos momentos, a realidade não corrobora este conceito. Não raro, os povos mais desenvolvidos reagem com maior violência e arrogância diante de uma agressão, utilizando toda sua capacidade de retaliação.

É claro que o fator pobreza e exclusão social contribuem com o crescimento da violência. Nesse caso, não seria impossível diminuí-la. Seria necessário somente redistribuir as riquezas e combater a exclusão social por meio de um projeto arrojado de educação de qualidade universalizada. A sociedade procura resolver esta questão de forma inadequada. Não se equaciona um problema pelos efeitos, mas pela causa.

A humanidade não consegue respostas rápidas para resolução das necessidades elementares do indivíduo e ao longo da história tem recorrido às guerras mais cruéis. À medida que o mundo evolui, mais trágicos têm sido os resultados delas. Na última guerra mundial foram ceifadas milhões de vidas. A maioria era vítima inocente. E para quê? Para saciar o ego de algum líder? Ou para realizar o desejo sanguinário e cruel do ser humano? As guerras só trazem malefícios para o povo.

Qual foi o maior período de paz entre as nações? Um dia, uma semana, um mês, ou um ano? Após as explosões das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, a tal guerra acabou ou continuou nas diversas guerras dos Séculos XX e XXI? As últimas gerações cresceram ouvindo falar das guerras na China, Rússia, Europa, Oriente Médio, África e etc.

Diante de tantas tragédias, pode-se afirmar que a humanidade evoluiu materialmente, mas esqueceu-se de evoluir como ser espiritual, transcendental e continua expor suas mais terríveis ações, de onde se conclui que o maior inimigo da humanidade é a própria humanidade.

As entidades que defendem a paz e os direitos humanos apresentam dados em que bilhões de pessoas passam fome, outros tantos não têm moradias dignas e não têm acesso ao serviço de saúde, educação, transporte; não têm direito à vida. Por outro lado, apenas alguns homens detêm riquezas equivalentes ao PIB de muitos países do terceiro mundo. Além disso, os maiores investimentos são direcionados à produção de armas militares, em detrimento dos investimentos que poderiam promover o ser humano.

E a PAZ? Cada dia torna-se impossível conquistá-la. Não há paz de espírito, não há paz social. O processo de desenvolvimento adotado ensina que para ser bem sucedido, é necessário que o indivíduo supere a si e aos outros.

A competição torna-se mais acirrada de forma que passa ser o fator mais importante na vida. A mente fica condicionada a competir e vencer e não aprende conviver pacificamente com o fracasso.

Não há espaços para os que não conseguem tornar-se vitoriosos. Por causa dessa competição implacável, o homem se violenta e perde o respeito pelo próximo. Não há paz nas cidades, no interior, na zona rural e não há paz nas famílias.

No Brasil, segundo dados do poder público, são registrados anualmente, algo próximo de 47.000 homicídios. Ocorrem mais mortes do que em confrontos nas guerras. Em alguns lugares, não se pode andar com tranqüilidade, porque é inseguro.

As pessoas, ricas ou pobres, estão expostas à violência e transformam suas residência em pequenas fortalezas (ou prisões). São reféns da própria omissão e indiferença.

A globalização é inexorável e tem acentuado o desnível entre as classes sociais. As potências detentoras de tecnologias estão monopolizando o conhecimento. Elas deixam os países periféricos à mercê de suas medidas protecionistas.

Os países do terceiro mundo encontram dificuldades para acompanhar o processo de evolução da ciência e das técnicas de produção e se vêem obrigados a transferir a maior parte de suas riquezas para as superpotências com objetivo de conseguirem acesso ao conhecimento, mas não têm sucesso, porque há muitas barreiras e dessa maneira, os recursos que deveriam ser investidos no social se esgotam em função deste fato.

Será que a humanidade deveria rever seus valores? Será que poderia se considerar realmente “civilizada?” Ou será que estaria retornando à época medieval, período em que a vida não tinha importância?

As nações preferem gastar suas energias e recursos financeiros em guerras, destruindo-se mutuamente, matando pessoas, sufocando sonhos do que investir as mesmas energias para promover a paz e o entendimento entre os seres, cujo custo é infinitamente menor, com retorno satisfatório porque promove o ser humano e possibilita aos povos a conquista de igualdade, fraternidade, respeito e dignidade.

*Texto escrito em outubro de 2001.