Anátema

Hoje, Estou numa tristeza insuportável;

Embora, diga que tristeza também é programa;

Porque, pensei na população descartável,

Que vive nas favelas e que ninguém ama!

A tuberculose devastava parcelas consideráveis da população mais pobre, antes do advento da estreptomicina e hidrazida; a educação pra lá de precária, mas ainda possível, aos que tinham um salário melhor, embora pequeno; podiam manter os filhos num bom pique de estudo, desde que os livros essenciais não fossem comprados; às vezes, comprava-se um ou outro livro de maior necessidade, mas o resto era copiar as aulas dos professores e melhorá-las com livros emprestados ou bibliotecas; poucos chegavam aos cursos superiores. É absurdo o crime que os governantes cometem contra a população; moradia, saúde e educação, direito do povo, são esquecidas; não há planejamento e os governos esbanjam em publicidade.

Quando falo da tuberculose é para lembrar que o temor da doença destruía toda a possibilidade de uma vida feliz; verdadeiro anátema!

As pessoas não podem deixar de ter casas. Os governos deveriam colocar como prioridade, dar residências a todos; nenhuma necessidade de casas com qualquer luxo; seriam feitas casas de um, dois e 3 quartos, pois, mais do que isso é luxo, com sala grande, cozinha e banheiro decente. Água, esgoto e luz. Se formos fazer as contas veremos que um quarto medindo 4m x 3m dá muito bem para serem colocados dois beliches, dai quatro leitos; um quarto de casal teria 5m x 4m e a sala poderia ter 4m x 4m; somente com esses cômodos, sem contar cozinha e banheiro, teríamos 12m + 20m + 16m = 48m2. Imaginem que uma sala de escritório tem, habitualmente, em torno de 40 metros. Em síntese, calculando-se o que se faz em Cuba, todos poderiam ter casas. Não seria permitida a ocupação dos morros; essa ocupação desordenada por milhares de pessoas constitui uma das coisas mais abjetas das grandes cidades e até das menores. Os governos que se sucedem só administram para os ricos, pois, os pobres não têm vez. Já nem quero falar de educação e saúde. Limito-me a considerar a moradia, por ser uma questão vital. As pessoas têm de abrigar-se dignamente; não podem ficar sujeitas às intempéries; ventos, raios e chuva grossa, derrubando barracos nos morros e nas lombadas; muita gente me diz que na maioria das casas dos morros, e das favelas há televisão, geladeira, vitrola etc. Será possível que essas pessoas que pensam assim, são tão filhos da p... para não entenderem a ignomínia que cometem? Gostariam que os habitantes das favelas nem rádio de pilha tivessem, para não tomarem conhecimento das falcatruas dos políticos e administradores; deveriam ficar na ignorância de tudo como os nossos índios? A bem da verdade, os índios ainda estão em melhor situação que a população operária! Causa horror vermos os morros ocupados por casebres, morros altíssimos, alguns com altitude superior a 150 metros.