Empunhando a Bandeira Branca
Ainda hoje a bandeira branca significa a paz ou a rendição ao inimigo, sinalizando a desistência de lutar pela guerra. Mesmo sendo de origem sertaneja e tendo passado por quatro estados nordestinos, onde algumas pessoas ainda acham que a valentia é status do “cabra macho,” sempre mantive hasteada a minha bandeira branca.
Jamais utilizei o argumento “em defesa da honra” ou “não levar desaforo para casa”, como pretexto para revidar uma possível ofensa moral. Sempre com a bandeira branca em punho, como medida de prevenção, felizmente nunca sofri nenhuma agressão física nem moral.
Surpreendia-me a maneira cavalheiresca como era tratado por aqueles que se diziam valentões, a quem jamais ousei desafiá-los, tratando-os diplomaticamente quando alguma relação de negócio se fazia necessária. Sabendo que ia encontrá-los “armados até os dentes”, como se dizia com os “coronéis do sertão”, nada disso me assustava, pois tinha a certeza de que as suas armas não eram para mim. Informado de que alguns daqueles senhores representavam uma ameaça aos seus inimigos, ia confiante de que não seria visto como inimigo, portanto livre de qualquer temor. Na minha memória ainda estava presente uma frase da minha avó, que costumava dizer: “Quem anda na terra alheia pisa no chão devagar”, numa referência ao respeito que devemos ter com os seus habitantes. Acho que foi essa a bandeira branca que sempre conduzi, pelo que também fui sempre muito bem tratado, sem jamais precisar de nada revidar “em defesa da honra”. Também pode ter prevalecido o dito popular de que “quando um não quer, dois não brigam”. Seria este o comportamento que deveria ser adotado por essas torcidas (des)organizadas do futebol, cada uma delas erguendo a sua bandeira branca para não aterrorizar os estádios, onde os jogos deveriam constitui-se no maior espetáculo esportivo e não uma praça de guerra.