CORAGEM DE SER
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Clarice era triste. E agüentava. Ela tinha coragem de ser triste. Mas não dormia e fumava sem parar.
Eu não tenho coragem de ficar triste. Faço tudo para não ficar e para não sentir este sentimento. É derrubador tal sentir.
Estou me divertindo muito com Saramago falando de Caim. Caim não deve ser lido de uma só tragada. Cada livro seu é uma surpresa diferente.
Ele tem coragem de ser ateu. Eu não tenho. Ele fala deus isso, deus aquilo com o maior humor. Evidencia tudo de errado que considera coma obra divina, inclusive menos inteligente que ele. É muito engraçado e livre, acho que é para mostrar porque não acredita. Chamo Deus com letra maiúscula e creio que o seu mistério é mistério mesmo e a criação vem daí e não nos compete investigar, só maravilhar e aceitar. Aceitar ser menos que Deus, ora! Porque não? Nem precisa se comparar com Deus, a gente é menor que muita gente em inteligência e talento, e não tem nada demais, não é uma desvantagem. É apenas uma diferença. E as diferenças fazem o sabor da vida; diferenças boas, bem entendidas.
Meu filho lindo e bom namora uma judia. Uma judia que não se diz judia, só etnia. E por tal ela é diferente em muitas pequenas coisas que ainda não sei. Por isso, num dia desses, eu ia perguntar pra Zélia a diferença entre etnia e raça. Mas algo me desviou o pensamento pra coisa melhor.
Agora Saramago usando Caim para falar entre o bem e o mal, a justiça e a lógica e outras milongas mais, em que o passado e a contemporaneidade não têm ordem cronológica ele faz Arte e talento.
Quando eu li a Bíblia como um livro curioso, lá em Leopoldina, na minha adolescência, eu achei a primeira parte muito chata e absurda, completamente inacreditável, se esse era o intuito da “coisa”.
Já na segunda parte, em que conta a história de Jesus eu achei uma história linda, cheia de encantos e cenas bonitas, misteriosas e mágicas. Com o testemunho de João que viu a “transfiguração do Senhor no Monte das Oliveiras” e contou por escrito seu testemunho eu fiquei impressionada. Anos mais tarde, Lucas que era um médico, culto e jovem, ateu, e se transforma em cristão, busca as informações do tempo de Jesus que morrera já passados uns quarenta anos antes da sua conversão e escreve seu testemunho também, que bate bem com o de João.
Então eu acredito em Jesus e acho sua história linda. Nem passei isto para os meus filhos, só os batizei e deixei aprenderem o Catecismo. Que foi como um alvará de soltura, “que creiam por conta própria e a vida vai ensinar”.
E desde Visconde de Rio Branco, uma cidade católica, eu aprendi a gostar dos presépios. Os presépios eram lindos em muitas casas da cidade, e o barato era entrar numa casa e ver o presépio feito. Era Arte. Lindo, cada um com a sua versão de presépio.
Mas o da nossa casa sempre era o mais lindo de todos. Acho que meu pai fazia a coberta de palha com pilastras de madeira, e o resto toda a família fazia um pouco. Havia muita arte e beleza tentando imitar uma paisagem natural com o musgo fresco forrando morros. Um caminho de areia que vinha serpenteando a paisagem até chegar diante da choupana e da manjedoura, onde deitadinho estava o Menino Jesus protegido por Nossa Senhora, sua mãe, e seu pai São José ao lado, venerando. Tinha a Estrela indicando onde ia nascer o Menino Jesus. A Estrela brilhava e guiava os três Reis Magos que vinham de longe, de outras Nações de Reis que vinham seguindo a Estrela com presentes o ofertas para aquele que consideravam seu rei, o Rei de todos os reis.
O Menino Jesus nasceu no dia 25 de dezembro. É o dia do Natal.
Durante toda vida fiz presépios para o Natal. Até hoje faço simplificadamente. Como simples vamos nos transformando.
O Natal está chegando. Maria vem por ai, grávida de seu Único Filho, sentada com sua barriga grande sobre um burrinho, e puxado por São José. Está chegando, procurando um lugar para nascer Jesus.
Não tenho coragem de ficar triste.
Sou incompleta. Mas tenho coragem de ser incompleta
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Clarice era triste. E agüentava. Ela tinha coragem de ser triste. Mas não dormia e fumava sem parar.
Eu não tenho coragem de ficar triste. Faço tudo para não ficar e para não sentir este sentimento. É derrubador tal sentir.
Estou me divertindo muito com Saramago falando de Caim. Caim não deve ser lido de uma só tragada. Cada livro seu é uma surpresa diferente.
Ele tem coragem de ser ateu. Eu não tenho. Ele fala deus isso, deus aquilo com o maior humor. Evidencia tudo de errado que considera coma obra divina, inclusive menos inteligente que ele. É muito engraçado e livre, acho que é para mostrar porque não acredita. Chamo Deus com letra maiúscula e creio que o seu mistério é mistério mesmo e a criação vem daí e não nos compete investigar, só maravilhar e aceitar. Aceitar ser menos que Deus, ora! Porque não? Nem precisa se comparar com Deus, a gente é menor que muita gente em inteligência e talento, e não tem nada demais, não é uma desvantagem. É apenas uma diferença. E as diferenças fazem o sabor da vida; diferenças boas, bem entendidas.
Meu filho lindo e bom namora uma judia. Uma judia que não se diz judia, só etnia. E por tal ela é diferente em muitas pequenas coisas que ainda não sei. Por isso, num dia desses, eu ia perguntar pra Zélia a diferença entre etnia e raça. Mas algo me desviou o pensamento pra coisa melhor.
Agora Saramago usando Caim para falar entre o bem e o mal, a justiça e a lógica e outras milongas mais, em que o passado e a contemporaneidade não têm ordem cronológica ele faz Arte e talento.
Quando eu li a Bíblia como um livro curioso, lá em Leopoldina, na minha adolescência, eu achei a primeira parte muito chata e absurda, completamente inacreditável, se esse era o intuito da “coisa”.
Já na segunda parte, em que conta a história de Jesus eu achei uma história linda, cheia de encantos e cenas bonitas, misteriosas e mágicas. Com o testemunho de João que viu a “transfiguração do Senhor no Monte das Oliveiras” e contou por escrito seu testemunho eu fiquei impressionada. Anos mais tarde, Lucas que era um médico, culto e jovem, ateu, e se transforma em cristão, busca as informações do tempo de Jesus que morrera já passados uns quarenta anos antes da sua conversão e escreve seu testemunho também, que bate bem com o de João.
Então eu acredito em Jesus e acho sua história linda. Nem passei isto para os meus filhos, só os batizei e deixei aprenderem o Catecismo. Que foi como um alvará de soltura, “que creiam por conta própria e a vida vai ensinar”.
E desde Visconde de Rio Branco, uma cidade católica, eu aprendi a gostar dos presépios. Os presépios eram lindos em muitas casas da cidade, e o barato era entrar numa casa e ver o presépio feito. Era Arte. Lindo, cada um com a sua versão de presépio.
Mas o da nossa casa sempre era o mais lindo de todos. Acho que meu pai fazia a coberta de palha com pilastras de madeira, e o resto toda a família fazia um pouco. Havia muita arte e beleza tentando imitar uma paisagem natural com o musgo fresco forrando morros. Um caminho de areia que vinha serpenteando a paisagem até chegar diante da choupana e da manjedoura, onde deitadinho estava o Menino Jesus protegido por Nossa Senhora, sua mãe, e seu pai São José ao lado, venerando. Tinha a Estrela indicando onde ia nascer o Menino Jesus. A Estrela brilhava e guiava os três Reis Magos que vinham de longe, de outras Nações de Reis que vinham seguindo a Estrela com presentes o ofertas para aquele que consideravam seu rei, o Rei de todos os reis.
O Menino Jesus nasceu no dia 25 de dezembro. É o dia do Natal.
Durante toda vida fiz presépios para o Natal. Até hoje faço simplificadamente. Como simples vamos nos transformando.
O Natal está chegando. Maria vem por ai, grávida de seu Único Filho, sentada com sua barriga grande sobre um burrinho, e puxado por São José. Está chegando, procurando um lugar para nascer Jesus.
Não tenho coragem de ficar triste.
Sou incompleta. Mas tenho coragem de ser incompleta