Notícias ao vento
Quem é que não gosta de saber uma “novidade”? Não é fofoca, é só uma informação. É simplesmente uma questão de estar atualizado. E quem não acompanha os acontecimentos fica pra trás.
Já reparou que é só começar falar mal de alguém que o tempo passa rapidinho? É um ótimo passatempo. Quando você está esperando numa fila e começa a falar mal de alguém – do chefe, do vizinho, do governo – o tempo voa.
Com essa técnica de fazer o tempo passar rápido, basta falar “mal”. Não é preciso falar a verdade. Não que seja mentira. Mas cada um conta o mesmo fato à sua maneira. É só um jeito de contar, uma ênfase a mais aqui, um exagero ali, um acréscimo de ponto de vista, de impressão pessoal, um detalhe esquecido, outro omitido por falta de tempo...
E falando mal sempre tem quem concorde, quem ouça, quem dê atenção. Falando bem, nem sempre isso acontece. É por isso que a notícia ruim voa mesmo, porque dá prazer a quem conta e a quem ouve. É interessantíssima! Já a notícia boa é mais vagarosa, é mais do interesse do personagem da história do que de quem conta. Quem espalha notícia boa, promove só o protagonista da história. Quem espalha notícia ruim, promove a si mesmo como o bem informado. Sendo assim, a vantagem é falar só bem de si e mal dos outros.
As pessoas se vangloriam quando são as primeiras a saber (e a repassar!) a notícia quentinha (eu fresquinha, dependendo). Ninguém quer ser o último a saber, o que “está por fora”.
Eu já escrevi um texto sobre segredo. Segredo é só de um. Quando se conta, não é mais segredo. Mesmo se falar a uma única pessoa, ela vai contar para pelo menos mais uma e assim por diante. Todo mundo tem um melhor-amigo, alguém de extrema confiança para compartilhar os futuros ex-segredos.
É como diz a velha frase: “Se você não quer que ninguém saiba, não faça.”
Meu pai é muito calado normalmente. Nas poucas vezes que vai falar de alguém, ele começa com uma ressalva: “Não é mal que eu estou falando, mas o Fulano...” Ele não é mesmo fofoqueiro, não. De certo, gosta de manter a consciência tranquila ao falar dos outros, esclarecendo de antemão que “não é mal”, mas “realidade”. Fato, não boato.
Já a minha mãe, uma vez comentou: “O Fulano nunca fala mal de ninguém. Como será que ele consegue?” Aí ela mesma emendou: “Talvez seja porque ele ainda não descobriu o quanto é bom!” Coitada, ela também não é tão fofoqueira como pareceu agora, não. Foi só brincadeira dela mesmo.
Mas que todo mundo adora mesmo uma fofoca, isso sim. Opa, fofoca não, informação. Todo mundo adora saber sobre o amigo, o vizinho, o parente, o conhecido, o artista famoso, o empresário influente, o político da vez. Mesmo sobre aqueles que há muito tempo não encontramos, é muito interessante saber a quantas andam.
Tem notícias que não dá pra segurar mesmo, fazem cosquinha pra sair. Contar é quase um orgasmo. É um orgasmo simultâneo, pra não dizer múltiplo, daquele que “introduz” a notícia e da pessoa que a “recebe”.
Alguns exemplos clássicos: “Fulano é gay”, “Beltrana trai o marido”, “Sicrana engravidou”. Por mais que já conheçamos dezenas de gays, de casos de traição e de solteiras que engravidaram, ainda assim, quando sabemos a mesma história só mudando o personagem, pronto, está armada a próxima “nova”.
Além de surgirem quase que espontaneamente e propagarem-se imediatamente, as fofocas têm a propriedade de aumentar de tamanho instantaneamente. Não é como algumas coisas que precisam de estímulo para crescer; as “notícias” crescem por si sós. O ditado popular já concluiu perspicaz e sabiamente que “quem conta um conto, aumenta um ponto.”
Mesmo sabendo de tudo isso, damos ouvidos e acreditamos em tudo ou em partes, dependendo do que nos é mais conveniente. E mesmo cientes de tudo isso, prestamos nossa contribuição à rede de informações, transmitindo tudo ou apenas parte, dependendo do que nos seja mais divertido.
Por fim, justifica-se que onde há fumaça, há fogo. O problema é que tem muita gente que faz uma fumaceira danada com um palito de fósforo. Como vemos, diferentemente das boas notícias, as fofocas espalham-se ao vento, sem esforço e com muito prazer.
PS: fofoque à vontade! Somos todos livres para falar e fazer o que quisermos! Só que é assim que funciona: cada um faz a ação que quer e depois recebe a consequência que merece.
(Catalão, 06/12/2009)