Animais na Igreja de Cristo

     Não se assustem com o título que estou dando a esta crônica, no tempo do Advento. E a apartir dele, não se apressem em me mandar pro inferno. Atenção, intolerantes, nada de condenação sumária.
     Asseguro-lhes, meus diletos leitores, que não escreverei heresias; como, sem dúvida, o ousado título pode insinuar. E nem defenderei teses ditas ou consideradas "perigosas e blasfemas". Como o faz, por exemplo, o nosso Saramago, agora com mais um livro na praça - Caim - e que chega mexendo mais uma vez com Deus, claro.
     Já nas primeiras páginas, o belo escritor lusitano bota pra quebrar. Agnóstico, mantém-se firme e resoluto nos seus posicionamentos contrários ao que, há séculos, a Igreja de Cristo prega, defende e tem como Dogma.
     Estou preparado para ler o novo livro do autor de o Evangelho segundo Jesus Cristo.
    
Queria dizer, que ainda não o adquiri. Estou esperando que ele me seja dado de presente na Noite de Natal.
     Garanto que Papai Noel não se recusará a trazê-lo e colocá-lo na minha árvore de Natal, já armada, e com seu nervoso pisca-pisca, aguardando a chegada dos meus netos. 

     Muito bem. Entre os bons cronistas da Bahia - além do João Ubaldo e do João Carlos Teixeira Gomes, citando, por enquanto esses dois - está Luiz Mott.
     Mott, professor titular de Antropologia da Universidade Federal da Bahia, sempre brinda os baianos com excelentes crônicas.
     Pode-se até discordar do que ele, com a veemência do intelectual expressivo que é, defende, na maioria dos seus escritos. 
     Mas não se pode deixar de reconhecer o seu bom estilo literário e que suas páginas são sempre recheadas de curiosidades históricas e de doutos ensinamentos.
     Leio, no jornal soteropolitano A Tarde, mais uma crônica sua, com este título: Divino zoológico na catedral.
     Refere-se à suntuosa catedral da capital baiana, obra dos jesuítas, no coração do Centro Histórico desta centenária metrópole.
     E diz: "Apesar da Bíblia proibir o culto aos animais, dezenas de espécies zoológicas foram incorporadas no imaginário cristão." E lembra que "uma visita aos maravilhosos altares da Catedral de Salvador, confirma essa incorporação,"
     E continua o Mott: "A serpente é a corporificação do demônio; os evangelistas são representados pelo leão, águia  e vaca. A pombinha branca representa o Divino Espírito Santo. Jesus é o Cordeiro pascal."
     Fala ainda sobre o pelicano, os cachorros de São Lázaro e são Roque; sobre Santo Antônio e os peixes; o galo, que cantou antes de Pedro trair o Mestre; e sobre o jumentinho ou jumentinha que levou, no seu dorso, o Nazareno a Jerusalém, no domingo da Paixão.
     Mott recorda o bem-te-vi (Ah, sempre os bem-te-vis!) que, segundo os Evangelhos apócrifos, teria "denunciado a sagrada família quando fugiu para o Egito".
     Pode não ser uma grande novidade o que o professor traz na sua crônica, que aqui comento. 
     Mas, de súbito, essa curiosidade bíblica passa despercebida, na sua essência e significado, até pelos católicos mais fervorosos e tolerantes.
     Faço, apenas, um adendo à crônica do professor Luiz Mott: bem que ele podia ter escrito algumas linhas sobre o padroeiro dos animais, São Francisco de Assis, amigo incondicional dos pássaros, representados, diria, pela cotovia, seu passarim predileto.  
 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 11/12/2009
Reeditado em 14/08/2013
Código do texto: T1973192
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