BOTECO, SERMÃO, SINUCA E BOSSA NOVA

Certa vez, a danada de uma beata, que iria para a Catedral de sua cidade ou pra Universal do Reino de... só não é de Deus, sei lá, começou a me dar um sermão daqueles: “moço, tome jeito, só vive em bordeis, bebidas, sinucas e mulheres”. Esqueceu ela do melhor, vivo mais na ressaca que na própria vida! A mandei tomar no cu, pois, afinal, ela era igualzinha a mim: fodia todas as noites e vivia sustentando o mais atual cabaré social: o capitalismo religioso!

A igreja não passa de uma prostituta mal acabada que rouba a pobreza alheia. Não estou falando da sua, nem da igreja do Zé da feira. Estou falando do Vaticano que me batizou sem minha consciência por alguns suados cruzeiros dos meus ingênuos pais e da Universal do reino do não sei o que lá... só não é de Deus, que rouba os centavos de minha inocente vó. Se a sua faz isso com você, meus pêsames, minha grana prefiro entregar para o dono do boteco, onde é meu santuário, onde o trago da minha cachaça me é mais sincero que a consciência dos sacerdotes.

Lembro-me bem, quando jovem, por volta de meus 17, 18 anos de idade, houve os jogos escolares aqui do RN. Como nossas disputas começariam cinco dias após da abertura, logo no primeiro dia saímos para beber num boteco em frente ao apartamento do padre que nos acolheu, afinal, minha educação foi toda em colégio religioso. Lá aprendi a beber, fumar, brigar e chamar palavrão. Únicos assuntos os quais nunca esqueci. Nós, cinco jovens, os mais velhos e mais beberrões, passamos uma noite de bebedeira das boas com cachaça, sinuca e muita bossa ao vivo - assim como existe muito bom escritor jogado na sarjeta, existe bastante cantor de barzinho melhor que muito pop star - o povo adora comprar a babaquice vendendo-se a alma. Compram a ignorância com a miséria de sua filosofia.

A mais célebre frase sobre a escrita que já escutei foi dita pelo velho, bom e saudoso doce amargo Shopenhauer: “quem escreve para idiotas encontra sempre um grande público”. Vai dizer isso para o Augusto Cury e o Paulo Coelho, os quais vendem a auto-ajuda que a religião tanto derrama suas lágrimas e não consegue sorrir nem fazer sorrir. O Nelson Rodrigues também gritou a já manjada frase: “toda unanimidade é burra”. E de fato é!

Ah, Mas não demorou muito e a farra findou, afinal, acabara o dinheiro. Ao voltarmos bêbados, acordamos todos os outros atletas e começamos a tumultuar o AP, chutar cama, revirar guarda-roupas, armários... e nesse vire e revire, não é que achamos no guarda-roupas do padre um litro de uísque e dois de cachaça! Esvaziamos tudo, dormimos no rol e no outro dia fomos expulsos da equipe pelo nosso técnico...

Agora me responda. Quem é mais fiel a Deus, o dono do boteco que vende bebidas para levar o pão ao seu filho ou o padre que vende o “pão” sagrado para comprar sua cachaça?

Nem me chame de vagabundo e incrédulo, pois enquanto trabalho numa creche e num asilo, a mulher que me dera o hipócrita sermão sonega impostos e faz suruba com o pastor e o padre.

A religião é uma droga pelo simples fato de ser a invenção de um babaca para vender a esperança do crime...

... Muita gente comete um crime porque tem certeza que dobrar os joelhos na frente de um velho de batina ou um lobo de terno e gravata, pedindo o perdão, o salvará do seu pecado. Santa idiotice!

Minha igreja é o mar, o sol, a floresta... que por sinal estão “sumindo” pela ganância do homem que não perde um domingo de páscoa, que não perde a missa ou o culto religioso... é o homem que está exterminando o homem. O Jabor disse mais ou menos assim: “a natureza está se lixando para a gente, os dinossauros sumiram e ela continuou seu ciclo. É com a natureza humana que o homem deve se preocupar”. Ainda, para fechar, citou Nelson Rodrigues, não lembro na íntegra, mas com esse sentido: “se a humanidade sumir, pode ter certeza, não perdemos nada!”

Para encerrar, faço minhas as palavras do poeta potiguar Henrique Diógenis:

SERMÃO

Num copo

Já afogado na ressaca

Todos os sonhos

E desejo que as flores não lhe dão

O mar

O sol

E a escuridão

No som da viola

Que ora soa com tom de anjos

Ora desafina como a língua do diabo

Morro com golpe de acordes

No balcão de um bar

Mais sincero

Imortal

Que o danado imoral

Peso do altar

Digo e repito

Não sou ateu

Sou o olho cego do rico

E o sangue do plebeu

Tenho medo de mão de padre

Tenho nojo de mão de pastor

Enfrento o mal com a verdade

E o venço com amor

Tenho ódio de falsidade

Que é o preço da sua dor

Cadê igreja, tua piedade?

Tu que é dona do horror

No copo que murmura

Está minha alma

Pura ou impura

Brava ou calma

Tem pele e tem osso

É limpa e imunda

Mora no fundo do poço

Do bem que em mim fecunda