Garotas de vida fácil?

Esqueçam completamente aquele estereótipo da mulher prostituta estar vestida apenas com micro saias, seios expostos nas ruas e pedindo para você parar ou ainda aqueles modelos de “Damas da Noite” com vestidos provocantes e perfumes de gardênia, sentadas em poltronas em um salão freqüentado por velhos e moços de alguma sociedade conservadora e antiga.

Não há mais como discernir se a vizinha, parente, colega de trabalho ou a universitária também trabalha como prostituta nas horas vagas ou até mesmo em horário integral; os moldes para apontamento de uma mulher que satisfaz os desejos alheios por meio de pagamento deixou de ser algo secreto ou indiscutível nas rodas sociais; elas estão em sites finamente elaborados ou em simples anúncio de jornais; descrevem seus gostos, mostram seus dotes corporais e dizem o preço; quem vai ficar atraído ou não, depende muitas vezes, apenas do bolso do freguês.

Em um site de apresentação destas garotas o preço pode variar entre R$ 100,00 e R$ 500,00 por uma hora de sexo; elas também costumam cobrar uma taxa adicional que elas atribuem ao taxi ou ao deslocamento. Eu conversei com cinco destas garotas que anunciam seus serviços em uma página da cidade onde moro e a que me cobrou menos, disse gastar R$ 50,00 para o taxi, já a que cobrou mais caro, disse gastar cerca de R$ 150,00 de deslocamento. Eu também perguntei a todas elas o valor por uma noite inteira; a mais em conta pediu R$ 500,00 e a mais cara R$ 2.000,00 por uma noite de sexo.

Outra curiosidade sobre estas novíssimas atendentes do sexo é que quase todas explanam em suas páginas pessoais os gostos, hobby, comida favorita e o que gostam ou permitem que façam com elas na cama. Curioso mesmo é que algumas aceitam que façam sexo com elas sem a utilização de preservativos, cobrando um pouco mais caro pelo serviço que elas chamam de extra; esquecem as pobres moças que dinheiro nenhum compra, por mero exemplo, a cura da AIDS.

No passado haviam casas especializadas na apresentação deste tipo de ofício, eram as chamadas “zonas” ou “bordéis”, tão freqüentadas por senhores e seus “afilhados” e mais tarde pelos boêmios e visitantes de uma cidade. Também havia a figura de uma “madame”, que era conhecida por “cafetina”; eram estas cafetinas quem agenciavam suas protegidas garotas para que os freqüentadores das casas pudessem se sentir privilegiados. As cafetinas recebiam antecipado dos clientes e depois, repassavam uma comissão para as mulheres. Aquelas casas do passado eram, geralmente, grandes, com decoração luxuosa e tinham vários quartos.

Com o passar do tempo mudou tudo; as casas grandes deram lugar às casas funcionais, com piscinas, local de massagem, bar e sauna. Poucas delas mantiveram quartos para oferecer aos clientes, principalmente após o fechamento de muitas por determinação da justiça. Era o tempo em que até os nomes mudaram, passando a se chamar de boate em muitos lugares e de “sauna” ou “termas” como no Rio de Janeiro. Em geral estas moças eram contratadas para fazerem strip-tease em um palco cercado de pessoas que lhe pagavam uma espécie de cachê pela apresentação artística.

Quando as moças começaram a descobrir que a mídia poderia lhes ajudar, como os anúncios virtuais, elas passaram a abandonar qualquer relacionamento com as casas de prostituição e aderiram a um movimento de solidão nos negócios; outras freqüentam locais abertos ao grande público e até fazem shows de strip-tease, de lá fazem os contatos e o casal acaba chegando a um motel da cidade.

Em pleno Século XXI tudo está mudado; se ainda existem casas especializadas em prostituição, nos mesmos moldes antigos? Claro que existe! Principalmente no Norte-Nordeste, nas cidades pequenas e nas rodovias mais movimentadas, o que não falta é anúncio de casas com luzes vermelhas nas portas; as zonas portuárias de grande porte ainda permanecem como grandes atrativos para moças aventureiras e marinheiros que chegam de fora do Brasil, mas este tipo de negócio, quando não possui o apadrinhamento de policiais corruptos, já começa a sucumbir aos rigores legais.

Ao invés de expedientes noturnos em casas pouco freqüentadas, principalmente por quem de fato podem pagar pelos serviços, as novas garotas do sexo pago resolveram montar seus próprios negócios; cada uma que pode, paga uma taxa para aparecer em páginas especializadas; suas fotografias são expostas mostrando muitas vezes o rosto e apresentando aos leitores todas as condições para que haja a concretização do negócio. Elas dizem o que esperam da pessoa e tudo aquilo que pode oferecer e como já disse, apresentam o preço e somente aguardam o contato por telefone ou e-mail.

Uma das garotas com quem conversei me disse que prefere sempre os homens que estão hospedados em hotéis de luxo ou aqueles que as convidam para motéis também de luxo; ela disse que checa bastante se o homem a convida para ir para sua casa e caso ele queira fazer uma festinha com vários amigos, só vai depender da negociação prévia. Suely, como ela prefere ser chamada, disse que cobra entre R$ 500,00 e R$ 2.000,00 por uma festinha de 3 horas e garante que pode satisfazer até quatro homens ao mesmo tempo.

Em especial Suely afirma ter 19 anos, mas confessa que tem várias amigas que completaram recentemente 16 anos. Ela disse que estas garotas menores de idade são atraídas, muitas vezes, por outras amigas que lhes apontam uma vida tranqüila, freqüentando a mais alta roda social e obtendo ganho líquido que pode chegar a R$ 20.000,00 por um mês de trabalho.

Suely aceitou conversar comigo, mesmo sabendo que eu não iria contratá-la; disse-me abertamente que vários hotéis da cidade mantêm na recepção um “book” com fotos e contatos de muitas garotas para a apresentação dos hóspedes; quando estes hóspedes chamam uma destas garotas elas costumam deixar uma gorjeta que pode chegar a R$ 100,00 para o recepcionista. Segundo a garota, é uma espécie de percentual pela indicação de seus préstimos.

A moça também afirmou que há um hotel em Belo Horizonte que abre as portas de seu restaurante e cobra R$ 50,00 de cada garota que chega; estas garotas são universitárias que quando saem da sala de aula pagam para entrar no bar e quando conseguem algum admirador, negocia diretamente com o pretendente e cabe a elas fazerem um preço que compense o pagamento do ingresso. Ainda falando deste hotel em especial, ela disse que se o pretendente tiver consumido bastantes bebidas mais caras a direção da casa devolve-lhe a grana empregada. Ela também contou que só freqüenta este hotel quando as ligações cessam abruptamente e que nunca “tira” menos de R$ 4.000,00 livres por mês de trabalho. Ela também afirma que prefere quando seus clientes aceitam ir ao seu apartamento, que é alugado e que divide com outras duas moças; neste caso, ela cobra um pouco mais, cerca de R$ 200,00 por uma hora de serviço.

Perguntei quanto ela paga para aparecer no site de garotas e ela me disse que paga R$ 2.000,00 para entrar, incluindo o álbum fotográfico e uma mensalidade de R$ 200,00. Ela também disse que não anuncia em jornais, uma vez que o próprio site já faz isso para ajudá-las e quando eu perguntei sobre o retorno financeiro que o site lhe proporciona ela enfatizou que 90% de sua renda vêm destes anúncios e que seu maior sonho é comprar um apartamento.

Fui mais longe com Suely e também perguntei; se ela afirma ganhar tanto dinheiro, porque não compra um apartamento ou um carro; ganhando no mínimo R$ 4 mil por mês, já lhe dá oportunidade de financiamento de um apartamento razoável ou de um carro de médio porte; Suely mais uma vez foi enfática em dizer que neste ramo, se ganha bem e se gasta da mesma forma, mas não quis dizer com quê gasta!

O mais singular neste mercado, assim como qualquer outro, o desnível de preços de acordo com o local praticado chega a ser excêntrico; em Belo Horizonte a maioria das garotas cobra por hora e o preço já divulguei no início; em São Paulo, três páginas pesquisadas mostram que elas geralmente cobram pelo período de 3 horas, podendo chegar a R$ 1.000,00, dependendo do estilo da profissional; no Rio de Janeiro, saindo da Zona Sul e Barra da Tijuca, um programa pode ter valor inferior a R$ 100,00. Nos sites mais freqüentados por turistas, as garotas cariocas podem cobrar até mil Euros por um programa simples; tudo vai depender dos aspectos que envolvem a profissional e o cliente!

Curitiba é uma das capitais que mais possuem boates com shows eróticos; são mais de 10 apenas no centro da cidade e nos arredores, casas luxuosas oferecem todos os tipos de garotas com preços também para todos os tipos de fregueses. Florianópolis, Goiânia, Salvador e Fortaleza também seguem quase que a mesma linha de ofertas e preços, mas foi em Brasília e Porto Alegre que a pesquisa revelou onde estão as garotas que cobram os preços mais altos por uma noite de sexo.

Na Capital Federal numa das casas do Setor de Gráficas, uma garota não cobra menos que R$ 500,00 por uma hora de sexo e na capital gaúcha, apontada como sendo a capital com as mais belas loiras do Brasil, numa das casas mais freqüentadas, uma modelo pode cobrar até R$ 1.000,00 por hora de trabalho; se há pessoas capacitadas a pagá-las? Somente elas podem revelar!

No site do Ministério do Trabalho e Emprego há tempos atrás, divulgou até uma cartilha que orienta “como ser prostituta”, conforme item 5.198-05 do CBO, que já foi retirado do ar; a Rede Prostitutas.org, que é a associação de classe, também divulga que o MTE reconhece a classificação das “profissionais do sexo”, que também pode ser chamada de “garota de programa”, “meretriz”, “mensalina”, “michê”, “mulher da vida” ou “trabalhador do sexo”. A descrição sumária: Buscam programas sexuais; atendem e acompanham clientes; participam em ações educativas no campo da sexualidade. As atividades são exercidas seguindo normas e procedimentos que minimizam a vulnerabilidades da profissão.

Em tese, qualquer um pode empregar uma pessoa e qualificá-la na Carteira de Trabalho como prostituta, bastando seguir as normas e procedimentos que minimizam a vulnerabilidade delas e é claro, recolhendo o de direito para o INSS.

Outros sites como daspu.com.br, beijodarua.com.br, davida.org.br e redeprostitutas.org.br descrevem bem o que estas moças passam no exercício de suas profissões; muitas são humilhadas depois ou durante o ato sexual, algumas sequer recebem o valor cobrado após ameaças de vida e algumas são muitas vezes espancadas e raramente conseguem um atendimento policial digno de um ser humano; pelo menos é o que elas reclamam.

No Rio de Janeiro há um bairro inteiro de casas de programas, a Vila Mimosa; esta zona tradicional de diversão na Cidade Maravilhosa já está lá há pelo menos 100 anos e abriga mais de 100 casas que recebem cerca de 3.000 homens todos os dias. A associação que cuida do lugar afirma que há pelas várias ruas e casas de Vila Mimosa, cerca de 1.500 mulheres a disposição de quem quiser visitá-la.

Nos áureos tempos em que morei no Rio de Janeiro; eu costumava ir a Vila Mimosa com alguns amigos, principalmente os que sequer ouviram falar do lugar; pelas ruas estreitas e vários bares, o que se vê é realmente espantoso; centenas de mulheres nuas ou com poucas vestimentas, penduradas em janelas eróticas, desfilando pelos corredores intermináveis ou bebendo uma cerveja no barzinho de sua preferência. Apesar de jamais ter tido maiores contatos com as garotas e de haver um super aglomeração no lugar, jamais vi desrespeito ou confusões; a polícia costuma guardar a entrada do bairro e os próprios comerciantes cuidam da segurança das moças caso haja algum cliente ou visitante mais atrevido.

A história conta que as primeiras freqüentadoras de Vila Mimosa foram as polacas, mulheres européias, como eram conhecidas, que fugiram da Primeira Guerra Mundial. Hoje o local é aceito pela Prefeitura do Rio e possui um forte plano até de divulgação, principalmente porque já faz parte da cultura da cidade.

Sejam nos velhos cabarés, nas casas das madames, termas, saunas, scort bares, páginas de internet ou na Vila Mimosa, a única coisa intolerável que não se permite é o preconceito de que estas mulheres são “vagabundas” ou “vadias”; elas trabalham muito mais do que muitas donas de casas; são mães, algumas são esposas e constituem uma fatia da sociedade reconhecida como legalizada. Não se pode tolerar que crianças sejam aliciadas ou que qualquer uma delas seja maltratada por quem quer que seja; se elas estão na vida e praticam a profissão de prostitutas, com certeza é porque tem cliente que pague; com certeza é porque têm maridos, filhos, padres e mulheres inclusive, que as chamam e as pagam por uma noite ou por uma hora de sexo.

Se forem polêmicas respeitem-as e cobre delas a mesma civilidade que você acredita ter; se são extravagantes na aparência, ignore-as como costuma ignorar os piores absurdos familiares; mas se você precisar de seus serviços saiba que sempre terá uma moça pertinho de você, talvez em seu prédio ou na sua rua, a fim de servi-lo, desde quando você esteja capacitado a pagar seus honorários.

Meu conceito de prostituição é muito mais abrangente do que o que determina o CBO; muitas pessoas, homens e mulheres, podem não cobrar em moeda corrente por seus préstimos sexuais, mas aceita uma boa vida, moradia, passeios e outros mimos; se isso for constante, também pode caracterizar um pagamento e neste caso...! Eu jamais vi uma profissional do sexo abordando alguém na rua ou usando o telemarketing para oferecer sexo a qualquer um!

Finalmente, antes de chamar alguém de “puta”, imaginando estar aplicando-lhe um termo pejorativo, lembre-se que você pode ter um caso até mesmo dentro de casa!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

www.irregular.com.br

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 11/12/2009
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