A Número Um do mundo
A nossa família foi pega pelo estômago! Sim, isso é possível. Tudo começa com os namorados. Como? Namorados? Isto mesmo! Todo namoro que se preza, lá pelos idos de 1980 têm que passar por um dos restaurantes mais requintados da cidade; a Brasserie. Situada na Praça José Bonifácio, 905, bem no coração da cidade. Toda refeição do restaurante deixa um gosto de quero mais nos seus clientes. Servida a la carte em um ambiente decorado com extremo bom gosto. A Brasserie foi o “point” da sociedade piracicabana durante muitos anos.
O tempo fez com que a direção do restaurante fosse contemplada com mudanças radicais. Ouve a separação. Uma das famílias monta uma pizzaria, e para a nossa sorte, quase no quintal de nossa casa.
Duas noites, após, a inauguração fomos a pé até a Florença. A pizzaria funciona provisoriamente em uma bela casa todinha branca com um jardim bem cuidado. Entramos na ampla sala e sentamos. Nosso filho Guilherme de apenas dois anos correu pela casa e foi parar na cozinha. O pizzaiolo, João Lescovar, um senhor alto é o dono da pizzaria.
Fui atrás do Guilherme e o encontrei com uma bola de massa de pizza na mão. Sem duvida, o menino, também foi pego pelo estomago. A partir deste dia ficamos fregueses.
Acompanhamos a mudança para a nova casa situada na Rua José Pinto de Almeida, 485, no centro da cidade. Tudo pensado e construído especialmente para comportar a pizzaria. O tempo passa e a massa da pizza sempre nos apetece cada vez mais. De uma crocância de estalar na boca. O manjar dos deuses no Monte Olimpo consta no seu cardápio; a saborosa pizza.
Após, um problema grave com a minha saúde resolvo junto ao meu marido fazer uma viagem á Europa. Escolhemos passear por nossa conta e risco, sem precisar muito de guias, e tudo acontece melhor do que o esperado. Pontos turísticos, museus, igrejas, tudo mais ou menos dentro das expectativas. Mas, uma coisa não nos deixa satisfeitos. Como? Ainda não estão satisfeitos? Vou explicar melhor.
Saímos de Piracicaba, resolvidos a encontrar uma pizza mais saborosa do que a da Florença, como bons descendentes de italianos provamos pizza e massas em diversos países, nada supera as massas da minha família feita com as receitas da nona italiana Joana Prezzoto Giubinna, e, ainda mais misturadas com o nosso jeitinho brasileiro.
A nossa busca incansável pela melhor pizza rola e enrola por toda a Itália. Veneza: muito borrachuda e sem recheios. Nápoles: terra original da pizza, Durval escolhe jantar na pizzaria considerada uma das melhores do mundo, e a maior decepção! Mesma feita com ingredientes típicos e de acordo com os procedimentos tradicionais foi assada no forno a lenha e cresceu mais na borda que no centro.
Assis, Florença, Pisa, Roma e outras belas cidades fizeram parte do roteiro turístico e por conseqüência da procura pela “Número Um”. Decepção, após, decepção! Áustria, Alemanha, França, Espanha, Inglaterra, Suíça, um roteiro de belezas ímpares, mas, nada de encontrar a “Número Um”. Algumas semanas se passam e voltamos ao nosso querido Brasil. Ávidos para matar a saudade da família e da brasileiríssima, a piracicabana, a nossa: “Número Um”.
A variedade do cardápio da Florença é de deixar qualquer amante de pizza; zuretado das idéias. Enfim..., a escolha: meia Baianinha e meia Florença. Minutos se passam e lá vem ela! Eleita sem sombras de dúvida como a: “Número Um”. Nem grossa nem fina, assada em todos os lados por igual, sem esbanjar, mas também sem restringir no recheio. Tudo na medida ideal.
Resolvo falar com a dona da pizzaria sobre a escolha da casa como: a “Número Um”. Idamis fica muito feliz e conta que o segredo está no forno. Inventado graças a um longo trabalho de experimentação do seu marido, João Lescovar, um verdadeiro “Professor Pardal Tupiniquim”.
Tudo na pizzaria foi concebido e feito por ele, os retângulos trabalhados da madeira do piso, o corrimão da escada, a geladeira, o freezer de aço inoxidável, as prateleiras, e o forno. O primeiro teste acontece quando a família Lescovar recebe uma personagem ilustre da Literatura Brasileira.
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretãs, a Cora Coralina, veio à cidade para ser homenageada pelos alunos de uma escola, e, um dos filhos da família faz um pedido inusitado á mãe:
_Mãe; tem uma poeta na minha escola. Ela pode ficar lá em casa.
Idamis prontamente atende ao pedido do filho.
O teste do forno acontece e Cora Coralina recebe o primeiro pedaço de pizza assado por ele. Aprovado e mais que provado pela poeta e por todos.
A pizza mais saborosa do planeta foi concebida, através de muito trabalho e dedicação de mais de uma geração da família Lescovar e dos seus funcionários, recordo de uma frase de Goethe, a qual exprime o progresso desta família: “Os preguiçosos estão sempre a falar do que tencionam fazer, do que hão de realizar; aqueles que verdadeiramente fazem alguma coisa não têm tempo de falar nem sequer do que fazem.”