O GORDO E O MAGRO
 
         Uma senhora alertou que não se pode comer beterraba.
            Por que, invadi?
            Porque tem açúcar.
            É mesmo, nem pensava nisso, e ao mesmo tempo lembrei que os europeus fazem açúcar da beterraba, alimento que para nós enfeita as saladas.
 
            Na sala de espera de fisioterapia a turma vai chegando e se acomodando nas cadeiras vazias. Em geral é joelho ou omoplatas. Casos mais sérios são raros.
            A maioria é de velhos ou maduros. Ninguém se conhece, mas sempre quer falar alguma coisa. Em geral uma mulher idosa é quem inicia. O papo começa a rolar suave, pois todo mundo espera a hora do tratamento. E desenvolve tão natural, pois cada um tem uma dor e uma história.
            Rola troca de papo e de interesses. Homens ficam mais fechados, segurando sua “dignidade”. Mas se tem dor, acaba entrando na conversa e conta sua história.
            Eu que não sou de muito falar, sou mais é compreensão, acabo participando muito. E há um traço de união, pois cada um tem uma dor ou uma experiência.
            A beterraba abriu para a glicemia, a diabetes. Todos atentos eu discursei:
“_Todo magro é feliz, por isso é magro; e todo gordo é infeliz, por isso come demais e fica doente.”
            Uma velhinha miúda, magrinha, um metro e meio, depõe: “_ Eu sou muito feliz com meu marido, com vinte e cinco anos de casada”!
            E continuei, pois eu estava alegre: “_ Sorte sua. Mas quando você vê um gordo risonho, pode contar: é infeliz. Se procurar saber tem histórico de sofrimento.”

            Leandro, o terapeuta chefe chega á sala: “todos para dentro, está na hora!”
          E vamos todos obedecendo. E ele cuidando de todos nós. O ambiente é de bom astral e rola uma paz. O trabalho da equipe é bonito, feito com conhecimento e carinho. Sabem cada músculo, cada osso. Quando termina o atendimento, cada um se despede com amor, afetuosamente com agradecimento, “até a próxima!”,

Tchau!