Gelatina, nunca creme brullé.
O ser humano nasce aquilo que é! È bem verdade que as vezes , e por algumas circunstâncias da vida nos modificamos, nos moldamos , somos aparados em certas arestas que socialmente não nos caem bem, mas com certeza, se uma pedra nasce pedra não chegará a ser pau, talvez por isso o próprio Tom já dissera que é pau é pedra... é o fim do caminho.
Pau não vira pedra nem pedra vira pau.
Eu sou gelatina e nunca viraria creme brullé, parafraseando a lindíssima Julia Robert´s num filme do qual não me recordo o nome. Ta aí um exemplo típico.Eu nunca me tornaria uma Julia Robert´s, ainda que entrasse em spas, ou ficasse ruiva, cor essa que não sei se combinaria comigo, nem que fosse ao Pytangui, ou tivesse o talento inexplicável dela, sei lá... mas também há uma certa vingança nisso, ela, a Julia também nunca conseguiria ser a Ge, também não acho que ela tenha esse tipo de aspiração,mas ninguém no mundo, nunca conseguiria ser igual a mim, não por eu ser algo interessantíssimo, inigualável ou raro, mas por eu ser única, e não apenas por ser eu, mas por que qualquer pessoa é única e nasceu para ser si mesmo.
Nem sei se essa sentença está correta, mas quando era menor, e ás vezes, até hoje, eu imaginava o que aconteceria comigo se tivesse nascido no corpo, na vida, ou nas circunstâncias de uma outra pessoa com essa mesma alma? Como seria minha história? Minhas experiências? Minha família?
Esse pensamento me assombrou por anos a fio ao imaginar que talvez, por algum engano da natureza eu tivesse nascido na vida errada e ninguém além de mim tivesse percebido isso. Me imaginava como um ser no corpo e ambiente errados fadado a viver andando como uma alma num corpo enganado procurando o corpo certo.
Engraçado,porque agora percebi que isso parece papo de transsexual e por isso quero deixar bem claro ao leitor que sou uma mulher muito bem definida com minha sexualidade, que ama o sexo masculino em toda sua totalidade e nunca pensou em ser lésbica no entanto... Esse pensamento diz respeito ao meu temperamento. Minha louca personalidade e meu jeito intenso de ser.
As vezes gostaria muito de ser mais amena, ou menos intensa o que daria no mesmo, chego até a tentar... com medo de assustar as pessoas que amo com meu jeito desesperado e neurótico, queria ser insossa, não ser a primeira a telefonar, queria não ser aquela que sente falta, a que não consegue esconder seus sentimentos... queria ser fria, calculista, como diz um amigo meu, eu queria ser aquela que tira o tapete e deixa o outro sem chão... mas... eu sou Gê, e não Julia, sou gelatina e nunca seria creme Brullé, ainda que me esforçasse muito...
Mas também, o que seria do creme brullé sem a gelatina? Qual seria o parâmetro inferior a classificar o creme brullé como a mais requintada das sobremesas?
Sinto muito e que me perdoem os cremes brullés da vida, as mulheres perfeitinhas, aquelas pras quais tudo dá certo, aquelas que não são desastradas, as que não sofrem por amor, as que não tem problemas com cabelos, ou com a balança, as primeiras alunas da turma, as que sempre ganham as estrelinhas no fim de um dia de aula, as que ganham os concursos, enfim... a grande maioria de mulheres comuns as quais se destina esse texto, mas ainda que eu seja uma simples e barata gelatina eu prefiro ser aquilo que nasci para ser, a Gê, única, mesmo que estranha, louca ou incompreendida, mas isso sou eu. Existem muitas arestas ainda a serem aparadas, muitas frutas a serem acrescentadas a essa gelatina multi colorida que é a minha vida, mas a essência nunca será mudada... Essência de gente, essência de medos e incertezas, o que é natural dessa espécie indefinida e psicótica que é o ser humano, essência de mim mesma, ainda que não seja devidamente saboreada pelos mais requintados paladares, nunca deixaria de ser Gelatina pra ser creme brullé.
Quem quiser algo na vida um dia que não seja tão sofisticado, nem tão caro como creme brullé sabe que poderá encontrar sempre a disposição uma descontraída Gelatina de sabores nem tanto surpreendentes, mas com certeza... sabores que só descobrirão aqueles que ousarem provar.
Aqueles que entenderem que nem sempre o mais caro pode ser o melhor.
GÊ