O BURACO DA OTÍLIA
O lugar é simples, aconchegante, sem frescuras, e a comida é maravilhosa, de temperos extraordinários e de sabor inigualável.
Experimente o sarapatel, o chambaril, ou a galinha de cabidela, ou ainda um sururu ao côco, pratos que não podem faltar numa boa mesa nordestina.
Otília morreu faz algum tempo, mas sua casa conserva ainda o tempero que a tornou famosa no Recife e no Brasil inteiro. Alagoana de nascença, ela veio pro Recife e instalou-se com seu “Buraco” às margens do Capibaribe, bem ali na Rua da Aurora.
Muita gente famosa passou por seu restaurante, como o Presidente Juscelino, sorridente na foto, abraçado à velha senhora. As paredes são decoradas com retratos diversos, folhas de reportagens sobre a singularidade do lugar, etc. A velha se orgulhava muito desse painel.
A casa mais parece uma pensão antiga, com seus quartos grandes e espaçados, cheia de corredores por onde garçonetes apressadas, num vai e vem constante, passam com bandejões de pratos cheirosos e fumegantes, cujo aroma nos dá água na boca.
O turista chega, pede uma “Pitu” ou “Serra Grande”, um tira-gosto, sente logo a brisa acariciante do rio Capibaribe no rosto, toma sua cerveja gelada enquanto espera, de estômago roncando, o prato escolhido.
Depois do pasto, com aquela sensação de ter comido como um padre, ele paga barato, se despede e vai embora, levando o gosto na boca, a saudade já no coração e pensando, sinceramente, em voltar um dia! ...
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Recife, 26/10/1979, às 12,15 hs, após um almoço no “Buraco da Otília”.