ROMANCE EM BUENOS AIRES

Aos 29 de março de 1959 eu principiei um namoro com a lourinha Maria Mari, durante um baile nos salões do Esporte Clube Renascença, em Belo Horizonte, Minas. Eu tinha 19 e ela 17 anos, ambos na flor da mocidade, cabeças cheias de sonhos e de castelos. Nos casamos aos 04 de maio de 1963 e, desde então, sempre comemoramos a data de 29 de março como a que marcou o inicio de nossa vida a dois, tão importante para nós como a do casamento em si.

Agora em 2007, ao completarmos 48 anos de vivência comum, fomos presenteados pela generosidade da nossa Tia Irene com uma viagem à Argentina, para comemorarmos durante três noites e quatro dias esse nosso quase meio século de harmonia conjugal, num casamento abençoado por Deus, que nos deu três maravilhosos filhos, Cássio, Ana Claudia e Daniel e mais cinco netos até agora, Igor, Isabela, Victor, Guilherme e Tomás.

Os cabelos encanecidos pela neve dos anos, mas de espírito forte e acreditando sempre na felicidade, aceitamos de bom grado e partimos para uma viagem inesquecível, saindo de Belo Horizonte exatamente no dia 29/03/2007 às 10,30 horas e desembarcando em Buenos Aires às 16,00 horas desse mesmo dia, no Aeroporto de Ezeiza. Fomos direto para o Hotel Bristol, na Avenida Nove de Julho, centro da cidade, bem ao lado do famoso obelisco. Após um banho reconfortante e um breve descanso, saímos de táxi, já de noitinha, para o badalado Puerto Madero. No caminho, dissemos ao motorista atencioso que, como brasileiros, gostaríamos de conhecer um restaurante onde servissem as famosas carnes argentinas (“chorizo”), acompanhadas de um bom vinho.

Ele sorriu, falou de alguns endereços e nos deixou defronte à LA CABALLERIZA, uma das melhores casas do gênero em Buenos Aires, no famoso Puerto Madero.

Puerto Madero é impressionante. Antigo porto da cidade (inaugurado em 1887), agora transformado em ponto de restaurantes e casas famosas, tem as frentes dos pontos gastronômicos para a Av. A. M. de Justo 580 e os fundos para o caís, na beira do rio.

Atendidos na porta por uma garçonete, atravessamos o imenso salão (a casa recebia seus primeiros clientes daquela noite), passamos ao lado da enorme churrasqueira onde se viam, através o grande vidro separando os dois ambientes, as costelas, lombos, lingüiças, filés e outras variedades de assados na brasa e nos encaminhamos para a mesa do fundo, junto à janela que dava para o rio, onde estava a fragata-museu ancorada.

Fazia uma noite linda, fresca, agradável, a Fragata-Museu Pte. Sarmiento estava ancorada bem próximo à entrada da parte dos fundos da Caballeriza, vários casais ocupavam as mesas ali colocadas, degustando vinho e apreciando a lua cheia que derramava sua claridade pálida sobre as águas do rio.

Degustávamos também um gostoso vinho tinto, quando chegaram os pratos:- “chorizo” (bife) de filé grelhado, arroz e salada típica (broto de soja, milho, tomate, rúcula e azeite virgem). Só o aroma que subiu até nós já atestou a excelência da comida. Curtimos bastante o jantar, os molhos, os temperos e as fragrâncias do ambiente e, após a sobremesa, saímos para a beira do caís, para fotos ao lado da fragata , aproveitando a brisa gostosa que vinha do rio.

Na saída do restaurante, o gerente permitiu-nos algumas fotos da sua cozinha, onde as carnes eram assadas nos imensos braseiros. Umas voltas pelos quarteirões próximos,

admirando as outras casas vizinhas e, satisfeitos, tomamos um táxi de volta ao hotel, dando por concluído o programa da nossa primeira noite em Buenos Aires.

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No dia seguinte, após um lauto café da manhã, ainda na cama, tomamos uma chuveirada e nos preparamos para um “city tour”, uma visita da cidade com duração aproximada de três horas. Assim, conhecemos a parte mais antiga, o setor sul, seus bairros históricos, como San Telmo e La Boca (com o famoso estádio do Boca Juniors, o La Bombonera, e o Caminito), depois a parte norte, mais fina e elegante, a Recoleta, seus luxuosos prédios, seu singular cemitério e Palermo com seu famoso parque e grande área verde.

No centro da cidade, o Teatro Colon, o Congresso, a Praça de Maio, a Casa Rosada, a Catedral , o Cabildo e diversas ruas, praças e locais de grande beleza.

Terminado o “city tour”, almoçamos no Il Gato e tornamos ao hotel para um breve descanso. Às 16,00 horas, saímos com o guia para conhecer uma fábrica de couros e fazer algumas compras. Após, voltamos ao Bristol, guardamos os pacotes e descemos novamente para uma caminhada pela Nove de Julho, nos quarteirões próximos ao obelisco. Tomamos um café (a cidade tem muitos, todos charmosos e elegantes como os parisienses) e regressamos ao hotel para um banho e preparativos para a noitada de tango que nos aguardava a seguir.

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Às 20,00 horas, um micro-ônibus nos pegou no Bristol. Já vinha com alguns casais apanhados em outros hotéis, todos destinados ao show no “Senhor Tango”, a mais famosa casa desse espetáculo em Buenos Aires.

Chegamos ao local, no bairro La Boca, um teatro enorme. Formaram-se os grupos e ficamos com mais três casais (um chileno, um alemão e um espanhol), dispostos numa grande mesa redonda, bem próxima à pista de dança. O palco é uma plataforma redonda, piso de chapas de alumínio, que se move para a frente, para trás e para os lados, conforme os movimentos e a performance do show. A orquestra, formada por violinos, bandonéons, piano e cantor, postada nos fundos, também avança ou recua dentro da coreografia do espetáculo. No alto da cúpula, o teto é pintado de azul marinho e borrifado de estrelas, como se o céu da própria noite estivesse a nos cobrir.

Ao se iniciar o show, apagaram-se as luzes e apenas um foco mirava o centro do tablado redondo. A orquestra iniciou a trilha sonora e um cavaleiro subiu à plataforma montado num puro-sangue branco, em pelo! Era um índio argentino (um nativo) e empunhava uma lança. Subiram a pé, ao seu lado, vários outros guerreiros cantando, dançando e exibindo também suas lanças. Luzes de novo apagadas, e o foco de luz vinda do teto novamente mira o centro do palco. Surgem os soldados espanhóis, em suas armaduras de aço, no papel dos colonizadores. Murmúrios e “frisson” na platéia, mormente quando os nativos simulam um combate contra os espanhóis. De novo apagam-se as luzes, o foco retorna, os espanhóis, vencidos, são expulsos e surgem os argentinos, em trajes mais civilizados, não desnudos como os índios, dançando os primeiros passos do tango com algumas mulheres. Uma síntese de como se formou a nação argentina. Lindo, maravilhoso!

Em seguida, começa a exibição dos casais de dançarinos do tango:- ao som da orquestra típica, solando tangos inolvidáveis como “La Cumparsita”, “El dia en que me quieras”, “Corrientes, 348”, “Caminito”, “Mi Buenos Aires querido” e outros grandes sucessos da apaixonante música argentina.

No final, depois da impressionante exibição de todos os casais de dançarinos, cada um deles melhor que o outro, juntam-se todos os artistas no palco, para o encerramento. Desce da cúpula, em forma de tubo, um enorme tecido de seda azul e branca (cores da bandeira portenha), em meio a pétalas de rosas que caem sobre o palco. E os dançarinos, perfilados, os homens com a mão direita por sobre o coração, cantam emocionados, junto com a platéia, “Não chores por mim Argentina”, num momento simplesmente fantástico! ...

Aí, meus amigos, eu compreendi o motivo do orgulho do grande povo argentino. Um povo e sua cultura, seus valores, suas tradições, seu espírito e sua história! ...

Já passava das duas horas da madrugada e retornamos ao Hotel Bristol, para uma noite de sono reparador. No dia seguinte, sábado, estaríamos com programação livre, por nossa conta. Nossa volta estava marcada para o domingo, dia 1o. de abril, às 13,00 horas.

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Sábado, dia 31/03/07, acordamos tarde, tomamos aquela ducha e fomos ao café no hotel. Regalamo-nos com os pães de superior qualidade, com os sucos, chá, café, leite, os frios e me fartei, principalmente, com um tal de “huevos revueltos” (o nosso popular ovo mexido). E assim, estômagos bem forrados, fomos às compras na Cale Florida.

Percorremos toda a famosa rua, visitamos varias lojas, topamos com uma vendedora brasileira, de São Paulo, Elba, há mais de vinte anos radicada em Buenos Aires, cruzamos com a Avenida Corrientes, fomos até o número 348 para conhecer o local do famoso tango de Carlos Gardel, “Corrientes, 348, segundo piso ascensor ...”, fomos fotografados defronte ao citado endereço, eu e minha loura, paramos no tradicional Café Richmond (Florida, 468), onde almoçamos e curtimos o glamour e a classe do ambiente, e depois fomos caminhando para o hotel, visitando lojas, lugares, praças e ... fotografando!

À noite, descemos, Maria Mari e eu, para curtir o frescor nas proximidades do obelisco, tomamos um caprichado café no Palácio Brasil, onde também fomos atendidos por uma garçonete brasileira, a Débora, e nos recolhemos ao hotel, para o descanso e a arrumação das malas.

No domingo cedo, após uma ducha renovadora, fomos ao café do Hotel Bristol para as nossas despedidas. Curtimos a refeição matinal demoradamente, nos deliciando com tudo a que tínhamos direito. Conversamos bastante, rezamos, agradecemos a Deus por aqueles dias maravilhosos, pensamos nos nossos queridos filhos e netos (como gostaríamos de tê-los ali, conosco!), nos nossos parentes, nos bons amigos e, em especial, na nossa Tia Irene, a mentora que possibilitou tudo aquilo que estávamos vivendo.

E ficamos por ali, rememorando os passeios, os cafés, os almoços e jantares, o show do Senhor Tango (ponto alto da viagem), quando um mensageiro veio nos avisar que o táxi para o aeroporto já havia chegado.

Adeus, Argentina! Adeus, Buenos Aires! Até outro dia, quem sabe? ...

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B.Hte., 04/04/07

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 10/12/2009
Reeditado em 10/12/2009
Código do texto: T1969861
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