Escrevendo

Ela se aproximou e disse que queria apenas me sentir.

E eu pensei, se o sentir se configura em "apenas", que penar o meu! Quão pequeno é o meu toque...

Nada nunca se completava para ela.

E eu lhe roubei um beijo, precisava roubar-lhe um beijo ainda que ela fosse minha, precisei roubar aquele beijo antes que outros ela pudesse me dar.

E eu sabia, existem coisas que mesmo embaladas pelo toque não alcançam o sentir, isso me fazia perceber que eu lhe tocava além do tato. Que sorte a minha! Eu tinha canções demais.

Ela, carências demais.

Eu lhe abraçei pelas costas e tentei lhe deixar segura a respeito de minha presença. Eu queria mostrar-lhe que eu era perfeito, se não fosse assim, ao menos ninguém seria melhor para ela que eu. Eu sempre soube ser preciso na vida de quem amo.

Uma trilha de sons nos ambientava e nos descobrimos um no outro, a letra era de tirar o fôlego e a voz de silenciar a alma em gemidos.

- Desfaz a minha trança, me assanha o cabelo, o juízo... me liquefaz os desejos pelos poros.

E fez calor.

E nos despimos, nos aquecemos ainda mais na solidão de sermos apenas nós dois.

Ela soprou a sua brisa contra a minha nuca, sussurrava aos meus ouvidos e eu sentia perder os sentidos em arrepios que se me percorriam a cervical.

Quando a calmaria tornou ao nosso leito oceânico, voltou como felino a roçar a pele contra a minha, tal gato se inserindo em meu colo e forçando um afago.

Ela me arrancaria todos os afago do mundo, apenas sorrindo...

E me despertando com um beijo, num outro lado do dia, disse que meus olhos sorriam mesmo enquanto eu dormia.

Eu, com os olhos de quem se delicia ante uma pintura, me alimentava de cada imagem sua, de cada nuance e do que não podia ser visto até, capturando o que não se expõe, mas meus olhos sentiam tanto que ardiam.

A fiz sorrir e me disse seu.

Só havia naquela hora um lugar que eu queria conhecer, suas curvas.

Me vesti de cegueira, fechando os olhos, tentando apenas lê-la em braile, mas em tua pele não haviam sinais, era a primeira vez que nos escrevíamos um no outro.

Foi apenas um capítulo. Uma página a cada dia e eu serei feliz. Não quero fazer de nós um Best Seller, a minha pretensão é meramente de fazer dela uma biografia de minha vida.

Amanheceu, apanho a caneta e sei, hoje ela será um pouco mais minha.

Ingrid Fernandes
Enviado por Ingrid Fernandes em 09/12/2009
Reeditado em 09/12/2009
Código do texto: T1968556
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