navio na colher
“E que eu possa continuar a ancorar meus navios na mais funda água da mais rasa colher . “ – Esther Rosado (recomendo a leitura dos textos desta mulher... ela é tremendamente sensível! - www.navedapalavra.com.br)
Mulher!!! Lendo isso aí em cima, sinto-me, como diria a minha avó, “impotente que só”! (Mania a minha de citar ditos da "vó Bela"... ACHO que tô ficando velha!)
Isso tinha que ter sido escrito por mim! Era exatamente o que eu queria dizer e não encontrei as palavras adequadas. Fico tão frustrada quando me deparo com frases assim: perfeitas...que dizem nada e tudo, na medida certa do meu sentimento.
Sentimento tantas vezes aprisionado, pássaro engaiolado, impedido de sair do peito; mas que canta bonito, alto e forte, de lá de dentro. Isto, ninguém, ninguém mesmo, pode impedir.
Assim como os navios, ancorados em água de colher... Sentimentos de poeta são capazes de proezas deste tipo. Capazes de singrar mares nunca dantes navegados em poça de chuva fina de fim de tarde. Capazes de escalar os mais altos picos em cascas de nozes emborcadas. Capazes de rodar o mundo inteiro num pião!
Navios ancorados, balançando levemente num mar de calmaria, âncora lançada nas profundezas dos mares contidos numa simples colher...
Ah, meus sentimentos! Meus pensamentos-pássaros, jamais aprisionados. Minha memória-luz pisca-piscando na escuridão de uma câmara qualquer. Dentro de uma caixa-de-fósforo ou na amplidão da noite sem estrelas... sem limites...
Sua frase me sensibilizou às lágrimas. Uma simples frase, em meio a tantas outras salpicadas num texto lindamente escrito. Por que esta? Porque, obedecendo à química da identificação de almas, tocou a minha, acordou a poeta adormecida há tanto!
Agora sei Esther, que, embora ancorado, o meu navio jamais deixará de seguir viagem!
Obrigada!
Grande Beijo
Lisieux
BH - 2.04.03