A Câmara Protetora

A câmara protetora.

Esse era pra ser um texto engraçado e até feliz, cheio de piadinhas inteligentes de um bom humor refinado como é de costume a minha pessoa, mas é incrível como uma palavra, ou uma atitude, por menor que seja, tem o poder de mudar todo o dia feliz de alguém.

Se as pessoas soubessem o domínio que tem sobre o outro, não fariam metade do que fazem.

Às vezes penso que seria mais fácil se vivêssemos todos com um campo protetor ao redor de nós nos abrigando de palavras atitudes olhares ou quaisquer outras coisas que nos fossem nocivas.

Eu mesma patentearia essa câmara protetora e daria a ela um nome... seria um nome como algo que tornaria a vida das pessoas um paraíso.

Só entrariam as palavras, olhares e gestos, permitidos por nós.

Prestando atenção em um dia da minha vida pude perceber que cerca de quase noventa por cento dos aborrecimentos que tenho são causados por pessoas, e na maioria das vezes são pessoas que eu amo, claro, afinal se não as amasse as palavras delas não teriam peso nenhum sobre a minha vida, eu nem ligaria, mas eu mesma me pergunto: Porque eu ligo então? Porque isso tudo me afeta tanto?

A resposta está na ponta da língua: Porque eu permito! Eu permito!

O que mais dói não é nem a palavra em si mas saber que eu sinto essa dor.

Queria ser como uma máquina, ou ter essa câmara de proteção agora mesmo, me esconderia dentro dela e não teria ouvido metade das palavras dolorosas que ouvi hoje, não estaria triste, não estaria me sentindo magoada, não estaria sentindo nada...nada... sentir nada também é horrível.

Sou um ser humano e daqueles bem humanos mesmo, sem nenhum item mecânico ou irreal em mim, nem ao silicone eu me rendi apesar de achar necessários alguns ajustes aqui e ali.

Sou humana sim, até demais, choro, grito, brigo, rio muito, muito mesmo, aliás as únicas rugas que possuo são as de rir muito

( ainda...).Gosto de ser um ser humano, de sentir tudo ao extremo, de sofrer muito e poder também me alegrar até chegar as gargalhadas, pensando bem, eu nunca conseguiria viver dentro dessa câmara criada por mim mesma e ainda estaria falida por não acreditar na eficácia da minha própria criação, então... esqueçamos essa invenção estúpida, afinal ,qual ser humano que se preze aceitaria viver sem abraços e beijos e cheiros, e mordidinhas na orelha ou todas as coisas boas da vida? A lambida do cachorro, o vento na cara, o sol no rosto, o frio nas bochechas. Isso é a vida, e eu adoro essa vida. O que me resta então?Aceitar as ignorâncias que vem de brinde nela, ouvir palavras que deveriam vir acompanhadas de um band-aid pelo machucado instantâneo que produzem, viver. È isso aí! A vida! Sentir tudo de bom ou ruim.

O que isso me mostra apesar de eu ainda estar com muita raiva , o que logo se veria nas minhas bochechas vermelhas se eu não fosse tão morena?Me mostra que vale a pena! Conviver é a melhor coisa da vida.

Esses dias vi o filme “A Lenda” e senti um desespero imenso na inércia dos primeiros trinta minutos, por ver a vida de um homem sozinho no planeta e me imaginar naquela mesma posição.

Eu morreria com certeza! Sem ninguém pra conversar, sem ouvir uma voz do outro lado da linha, sem risadas histéricas, sem brigas, sem emoções.

Se vivo é porque sinto e nunca, nem por um instante eu quero me tornar uma pessoa insensível.

Quero sentir tudo. Da raiva até o frio na barriga que um amor pode provocar. Eu quero!

E me permito, porque sou apenas um ser humano e como todos sabem um ser humano falha, então essa crônica vai para todos os outros seres humanos que como eu falham, me fazem feliz, me magoam, me ferem, enfim. Já que estamos todos no mesmo barco, vivamos pois!!!

Gê Flor de Pitanga
Enviado por Gê Flor de Pitanga em 08/12/2009
Código do texto: T1967892
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