JOVEM NOSTALGIA

Hoje, indo pra meu novo trabalho, como todos dias, passei em frente ao campus da Universidade a qual abrigou meus sonhos, alegrias, e frustrações durante quase cinco anos de graduação. Lá , eu entrei uma menina, e saí uma mulher. As fotos dessa trajetória revelam em cada detalhe essa mudança nos cabelos, unhas, roupas, dentes, jeitos e trejeitos; o que não se limitou apenas ao aspecto físico. Mais que minha aparência, mudaram os sentimentos, os ventos, os sonhos e a realidade.

Hoje especificamente hoje, me lembrei do sentimento de alegria absoluta que senti quando adentrei pela primeira vez aquele campus na posição de aluna.Eu não era mais uma adolescente vestibulanda sem rumo, a partir daquele momento, eu era uma universitária!Eu pertencia aquela tão sonhada instituição federal, eu era uma pequena menina com ambições de uma grande mulher.O tempo passou, as ideologias também. Os sonhos políticos tão planejados e esmiuçados nas aulas de sociologia se foram junto com as minhas tentativas de aprender a jogar sinuca no barzinho da frente.

Amizades pra vida toda. Pelo menos na lembrança sei que vai ser assim. Gente que mora perto, gente que mora longe, gente de todo o país.Em alguns períodos, outras “gentes” de outros países. As diferenças regionais no vocabulário ,são irreverências que faziam rir, e como eu sorri!Sozinha, acompanhada, em dupla ou em turma. Riso, foi mais que uma palavra, foi uma “presença” nesse tempo.

Aprendizado!Mais que acadêmico, aprendizado de vida!De convivência, de respeito, de escuta, de amor!Companheirismo, laços eternos!Pessoas que abriram mais que a porta de casa, abriram a porta do coração para receber uns aos outros e ofertar todo amor que havia, sem esquecer do cobertor e da xícara de cafezinho.

Festas, aniversários, baladas, samba, gafieira, bebedeiras, alguns porres “lendários” e muitas dores de cabeça depois, em todos os aspectos. Amores perdidos, amores achados, reencontros, e o fruto desses novos arranjos brotando, germinando dentro da barriga das colegas. Algumas perdas, mas quem é que nunca perde?

Hoje, ao passar por aquele campus, onde diversas vezes eu vi o Sol se pôr, tive que exercitar meu auto-controle para “sobreviver” a vontade de não descer e entrar novamente por aquele portão.Senti como se minha alma tivesse descido lá...Só o corpo seguiu viagem.Corpo sem alma, sem sonhos sem ambições. Corpo, mente e coração. Sangrando. Meus sonhos ficaram ali, em uma mesa qualquer, adormecidos. As expectativas de futuro melhor, devem estar na biblioteca, junto com a minha monografia. E eu?Não sou mais a menina pobre, de periferia, orgulhosa por conseguir driblar todas as dificuldades e concluir o ensino superior, acreditando que dias melhores viriam. Hoje, sou uma mulher que exibe no rosto um sorriso comprado em um magazine qualquer, na prateleira da liquidação. Hoje, sou só alguém que sente falta de si mesma, que chora a ausência do que não viveu, do que não se realizou. Hoje sou só um vendedora, em uma loja de meias, mas que insiste nesse otimismo que cisma de me fazer acreditar em um futuro que eu mesma não sei como, porque e da onde virá, e muito menos pra onde me levará. Hoje, assim como ontem, continuo poetizando a vida, tentando achar beleza nas pequenas coisas, nos pequenos gestos. Hoje, assim como ontem, eu continuo sorrindo pra vida, mesmo quando ela vira as costas pra mim. Hoje assim como sempre, eu sigo vivendo um dia de cada vez, uma lágrima por vez. Uma esperança por minuto. Exatamente igual como eu fazia nos tempos da faculdade.

Laila Ferreira
Enviado por Laila Ferreira em 08/12/2009
Código do texto: T1967633
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