As naus da minha infância
As naus da minha infância
Quando o sentimento de frustração nos atinge com toda a força lança-nos em rosto a fragilidade inerente à nossa condição de seres imperfeitos, lutando para evolucionar em um ambiente hostil, pleno de dificuldades, (umas reais e outras tanto imaginárias) locadas no cabedal de nossa fértil imaginação. (Enfim, oue seria de nós sem essa capacidade incrível de criar fantasmas e reinos encantados...)
Fiz uso do preâmbulo acima para me reportar aos tempos de garoto, época em que passava boa parte do dia nadando no rio Gongogi com os meus amigos; lá o mundo girava tranquilo, em um ritmo bem diverso do atual, enquanto construíamos as nossas naves de batalha, confeccionadas juntando baronesas, (um tipo de bulbos aquáticos) nas quais navegávamos pelos trechos mais calmos do rio, rindo a mais não poder, felizes por dispor de todo aquele maravilhoso curso d’água, aventura da qual saíamos com o custo mínimo de umas coceirinhas básicas por todo o corpo, incômodo que nenhum de nós levava muito a sério, apesar da vermelhidão que a dita nos deixava.
Eram lindos aqueles nossos barcos de fantasia, a bordo dos quais nos sentíamos autênticos piratas, a arremetermo-nos uns contra os outros. A luta só terminava quando os nossos barcos se desfaziam, levando rio abaixo os nossos sonhos bélicos.
Na infância não há essa coisa hedionda a qual damos os nomes de stress, frustração e muitos outros que enchem as clínicas de terapia pelo mundo afora.
Hoje, muitos anos já vividos, quando esse tipo de ciclone (o tal do stress) se avizinha deste sertanejo que vos escreve, o dito cujo corre rapidinho para os ensinamentos budistas que falam da impermanência das coisas que os nossos sentidos apreendem, e, como suporte adicional, ainda aposta na certeza de que após uma grande tempestade – não importa a duração, nem a intensidade da mesma – o astro-rei ressurge glorioso para nos oferecer a energia que nos proporciona a vida.
Como bem dizem os mais velhos: não há mal que sempre dure, e nem bem que nunca se acabe.
Vale do Paraíba, Maio de 2007
João Bosco