Dando só uma olhadinha II...
Martha Medeiros escreveu de novo para mim. Sou leitora voraz das crônicas desta maravilhosa escritora que tão bem descreve a natureza humana de maneira despojada e real. É gente como a gente! Por esta razão, toda a vez que me deparo com algo que sinto e que por alguma razão deixei de escrever é que penso: putz, de novo! Ela escreveu para mim! E foi inspirada no título homônimo de sua autoria que decidi escrever a 2ª parte: a saga continua!
Na verdade, Martha até tece elogios ao comportamento das vendedoras que no deixam livres para nossas olhadinhas básicas. Mas eu, indignada com o assédio de vendedoras afoitas por comissões de vendas, traduzo, através de minha interpretação acerca deste tema, o sentimento da maioria das pessoas ao decidir dar uma simples olhadinha em uma loja. É o que basta para um verdadeiro bombardeio de caça-níqueis, com aquela voz melosa aos se aproximar: “Posso ajudar em alguma coisa?” Pronto! Mesmo que você diga a frase clássica “Estou dando só uma olhadinha”, com a clara intenção de dizer: “Deixe-me em paz, se quiser algo eu peço”, que elas interpretam como uma senha de acesso: “Ótimo! Vou empurrar a loja inteira”.
Parafraseando de maneira torta Vinícius de Moraes que afirmava em versos: “As feias que me perdoem/mas beleza é fundamental”, reinvento seus versos, dizendo: “As vendedoras que me perdoem, mas simancol é fundamental”. E quem for vendedor e estiver lendo essas linhas, não precisa se ofender. Antes disso, considere a opinião de uma consumidora e saiba como atrair a freguesia em vez de espantá-la. Por que será que loja de departamentos vende tão bem e sobrevive ao constante cenário de crise econômica, mantendo-se como recordista de vendas? Não é só por causa dos preços módicos ou das condições de pagamento que oferecem aos clientes. É, antes de tudo, por preservar o direito inerente a todos os seres humanos com amparo em lei: o direito de ir e vir. Mesmo que você esteja cercado de câmeras de vigilância e seguranças contratados por toda a parte. Ao menos, como diria Martha, os vendedores mantêm uma distância considerável do cliente sem importuná-lo tão logo ele cruze a porta da loja e só se dirigem ao consumidor se sua presença for solicitada. Bárbaro!
Outra coisa: detesto aquela hipocrisia tão peculiar de empurrar roupas horrorosas apenas pelo preço de etiqueta e ouvir: “Nossa, ficou tão lindo em você!”. Não há coisa mais irritante. Mentira! Retiro o que disse, há sim! Atire a primeira pedra quem nunca se sentiu um meliante ao cruzar pelas “araras” de roupas e ter um vendedor praticamente pisando em seus calcanhares com um letreiro piscando na testa informando: “Tô de olho, to de olho”! Mesmo que você não possua vocação para o crime, tem a nítida sensação de que fugiu de alguma penitenciária de segurança máxima e que deve possuir cartazes de “procura-se” com sua foto bem exposta. É ridículo e humilhante! Deveria caracterizar, no mínimo, assédio moral. Não foi uma ou duas vezes que, mesmo interessada em alguma mercadoria, abandonei a loja e a ideia de comprar por conta desse tipo de atitude, extremamente abominável.
Martha, meu agradecimento hoje vai para você. Não quero jamais copiá-la, mas ratifico aqui que você escreve para gente como a gente. Traduz em palavras nossos sentimentos e antes de sequer pensar em plágio, embarco em suas opiniões, com as quais compactuo em gênero, número e grau, tudo depende do contexto social e que vivemos. Você é minha musa inspiradora (e olha que eu sou bem mulher!), mas não resisto em dar apenas uma olhadinha...