Mulher e Mar

MULHER E MAR

O vento balançava as folhas dos coqueiros. Como era bom respirar aquele ar puro. Fazia muito tempo que eu não me dava ao luxo de umas férias. O trabalho estava me sufocando de tal modo, que se eu não parasse, certamente teria um “stress.” Por isso tomei a decisão de fugir para aquela ilha quase selvagem.

As pessoas já estavam acostumadas às minhas atitudes bruscas. De repente, eu aparecia em casa e dizia que a tal hora estaria viajando por uns dias. Não gostava de dar explicações. Sempre fora assim, desde jovem. Todos compreendiam essas fugas.

Não sei se, por gostar muito do mar ou por precisar estar só, o fato é que naquela época do ano o “Resort” estava deserto e por isso eu o escolhera. Chegara na noite anterior. Sempre que passava ali, tinha a sensação de que estava num outro país, num outro mundo. Ele fugia a todas as normas dos tão conhecidos balneários. Apesar de ser um clube “privé” tudo era muito simples e a natureza luxuriante. Sei que causei uma certa estranheza ao chegar sozinha. O recepcionista que estava acostumado a receber casais que iam ali para curtirem amores fugidios, perguntou discretamente se o meu apartamento era de casal.

Sim, respondi-lhe, o de sempre, pois não era a primeira vez que corria para aquele lugar. Deixando as malas com o jovem funcionário, fui ao bar tomei um drinque e corri logo para a praia. O vento frio da noite me faz muito bem. O barulho das ondas quebrando nas pedras, aquele cheiro gostoso de mar, tudo isso me agradava. Não sei quanto tempo fiquei ali com os meus pensamentos. Não havia ninguém. Apenas o vento e o barulho do mar.

Bastante fatigada, voltei para o apartamento e tomei uma ducha. Havia qualquer coisa na minha personalidade que me fazia vez por outra sentir necessidade de solidão. Agora, totalmente desnuda, era realmente uma mulher livre. Aquele ritual a que me habituara, de todas as noites massagear o corpo com um creme, além de fazer bem a pele, dava uma gostosa sensação de leveza e abandono. Em mim, a sensualidade era uma constante.

Aos primeiros raios do dia estava de pé. O sol ainda não acabara de nascer e eu já me encontrava na praia caminhando sem rumo certo, pisando nas areias finas, sentindo uma intensa voluptuosidade. Estava tranqüila, pois naquela hora não encontraria ninguém. Deixei a parte de cima do maiô na bolsa e me entreguei com prazer às carícias do vento. Uma sensação indescritível. Meus expectadores eram o sol e o mar. Corpo e natureza harmonizavam-se, ninguém enganava ninguém. Despreocupada, tentava rememorar algumas coisas boas da vida, pensando livremente nos amores de ontem e de hoje, ou num sonho distante e irreal.

O calor começava a tomar conta do de mim. Era assim todas as vezes em que pensava nele. Corri para o mar e o impacto forte das ondas na minha pele, deu-me a sensação de um vigoroso abraço de homem. Aquela água tépida a lamber todo o meu corpo causava-me arrepios. O mar era o melhor dos amantes. Todas as vezes que me entregava a ele, sentia um gozo total. Pelas minhas pernas, misturado com a água, corria um líquido quente.

Mergulhava, nadava, me jogava contra ele, era como se ali estivessem um homem e uma mulher. Cansada da luta, fiquei deitada na areia recebendo as leves carícias das ondas. De repente, um vulto aparece e me assusta. À minha frente vejo um cavalo negro e fogoso. Parei, observando se alguém o acompanhava, e nada, ninguém.

Vendo que ele era manso, resolvi montá-lo e saímos cavalgando pela praia afora. Eu nunca me sentira tão livre na vida. Aquele belo animal, carregando em seu dorso uma desconhecida parecia-me encantado. Seria ele o meu grande amor? Estaria eu sonhando? Será que o sol me fizera vítima de alucinação? Não sei dizer, sei apenas que há muito tempo não sentia um prazer tão grande.

O contato das minhas pernas naquela pele negra e macia do animal me levava ao auge da excitação. Todo o meu corpo vibrava. Os bicos dos meus seios estavam rígidos. O meu cabelo molhado escorria por sobre o busto nu. O dourado da minha pele brilhava ao sol. Quanto tempo aquele manso amigo me carregou não sei. Apenas tive consciência de mim mesma ao vislumbrar algumas pessoas.

Aos poucos, os hóspedes iam acordando e se dirigiam para a praia, sempre os casais, tão embevecidos um com o outro que não davam conta da mulher e do cavalo. Desci e carinhosamente alisei o pescoço do meu companheiro que com olhos piedosos saiu a galope para a mesma direção onde eu o encontrara. Jogando a toalha no corpo corri para a piscina do hotel, onde muitas pessoas já estavam.

Entrei no chuveiro e segui para o bar, onde pedi um copo de vinho branco gelado. Realmente eu estava de bem comigo mesma. Nada me preocupava. Sentia saudades, mas uma saudade vaga – saudade que não machuca nem entristece. Sabia que os dias ali, seriam todos iguais. O passeio matinal, o banho de mar, a piscina, o almoço e à tarde um pouco de esporte ou uma boa leitura.

Ao anoitecer, quando todos já estavam recolhidos aos salões, voltei à praia. Era como se fosse ao encontro do amado. Afastei-me apesar de saber que ali, tudo era permitido. Noutras ocasiões, fiz amor ao ar livre. Ansiosa, fremente, fui ao encontro mar, totalmente despida A temperatura era amena e a água morna. Que sensação inexplicável!

O mar tranqüilo e o meu corpo nu dentro dele. O toque das ondas nos meus peitos deixava-os entumecidos. Abria as pernas e a água morna me penetrava provocando as maiores sensações de gozo. Agora eu era toda mulher, toda fêmea e o mar o meu homem, o amado, o velho e fiel amigo, amoroso e quente que me recebia independente do tempo. Ali não estava uma mulher, mas uma adolescente entregando-se com loucura ao primeiro amante. Assim foram os meus dias naquela ilha paradisíaca de manhã e à noite fazendo amor com o mar.