A surpresa.
É todo muito sério, formal, respeitável, pomposo, intimidador até. Instituições criadas para atender ao povo, aos seus anseios de dignidade, oportunidades, constituição de leis e realização de obras. O coroamento da civilização. O ápice da sociedade organizada. Lapidadas pelo tempo, pelos bons exemplos, pelas experiências, por erros de outras semelhantes... Aperfeiçoadas pelos membros, pelas vontades dos homens de bem, pelo altruísmo dos abnegados e generosos cidadãos... Porém elas têm um fator: precisam ser compostas da criteriosa e relativamente vitoriosa e democrática eleição! ...E aí? Quem se habilita? Eis a questão. Normalmente tem se habilitado que tem interesses... Projetos secretos, inconfessáveis, para ascender garimpando possibilidades. Usarão de todos os meios. Apanharão todas as migalhas. Penetrarão por todas as frestas da lei e das circunstâncias e irão se promiscuindo, espalhando seus vícios, deformando os ganhos, desconstruindo a ética, desarticulando as ferramentas reguladoras, subvertendo os valores, tripudiando dos leigos... E as práticas se repetem: “em time que está ganhando não se mexe”. As eleições se sucedem, se renovam, mas se repetem as caras, as intenções, as artimanhas. E as práticas se cristalizam, viram ética paralela, tal como o poder dos bandos urbanos. Para a sobrevivência menos que para o “sucesso” suspeitamente articulado. Todo mundo passa entender que é assim que funciona, mas ninguém tem provas. Estabelece-se a máxima: “ou se é hipócrita ou leviano”. E como hipocrisia não é crime, opta-se por ela.
Mas não me venham com cara de surpresa quando uma gravação, nova de idade e velha de prática, vai ao ar. Ela pode estar sendo apenas a fumaça tênue da queima subterrânea do fogo que ninguém mais apaga. Surpresa, não!