VITRINE DE NATAL

Hoje eu vi Jesus.

Ele estava em pé, em frente a uma vitrine, no centro da cidade. Reconheci-O imediatamente. Trajava uma túnica de linho branco e calçava sandálias de couro cru. Seus cabelos eram longos e por sobre sua cabeça reluzia uma coroa de espinhos. Seus braços, estirados em direção ao personagem central daquela cena, pareciam implorar por algo infinitamente impossível. Em suas mãos, duas chagas eram visíveis: inconfundível marca da cruz!

Seus olhos, refletindo tristeza no vidro da vitrine, brilhavam tal qual as luzes que enfeitavam o cenário. Seu semblante parecia suplicar: eis-Me aqui!

Crianças brincavam dentro da vitrine. Flashs e mais flashs registravam em máquinas digitais a branca barba do homem, que vestindo vermelho e branco, distribuía balas e sorrisos. Pilhas e mais pilhas de presentes caminhavam nos braços dos transeuntes que atropelavam-se no interior do loja.

Do lado de fora, a noite caía, enquanto a multidão ia e vinha sem se perceberem. Aproximei-me devagar. Pude notar que em sua túnica branca havia também o vermelho: gotas de sangue que escorriam pelos cabelos e manchavam suas vestes. Aproximei-me ainda mais, até o ponto de fixar meus olhos nos Seus, refletidos na vitrine. Percebi então, que o brilho dos seus olhos eram lágrimas. Estendi minhas mãos e toquei-lhe as vestes, que imediatamente foram ao chão, deixando transparecer as marcas do mundo. Também foi ao chão a coroa de espinhos. Recuei! Apagaram-se todas as vitrines. Somente a intensa luz que exalava do manto de linho branco se fazia ver. Meus olhos queimavam de medo e dor. Tapei-os com minhas mãos e, por entre os dedos vi o milagre: do breu da noite surgiu uma virgem de olhar terno e sorriso manso. Com os braços abertos, caminhou em direção às vestes que jaziam no chão; enquanto um menino renascia num facho de luz.

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