PARE DE FUMAR, POR FAVOR

Meu pai foi um homem que cedo travou batalhas contra a tuberculose, doença contraída aos trinta anos, tendo como consequência as sequelas no pulmão e uma aposentadoria precoce. Embora fosse fumante, naquela época, não atribuiu sua doença ao uso do cigarro e sim ao trabalho árduo e insalubre que desempenhava numa fábrica de borrachas. O cigarro ou o serviço insalubre, a verdade é que meu pai viveu os ultimos quatro anos de sua vida de um modo particularmente sofrível, para ele, para os familiares e especialmente para mim, que várias vezes o socorri em suas crises respiratórias, quase sempre resultando em sequelas que aos poucos causavam-lhe danos cerebrais. Faleceu aos setenta e seis anos, prostrado na cama hospitalar, sem comer uma única refeição nos doze dias que antecederam seu coma e posterior morte.

Para alguns este meu modo de descrever esta situação pode parecer frio e mórbido, mas não há outra maneira de fazê-lo, uma vez que preciso desabafar sobre um tema que preocupa-me muito, posto que ontem à noite, uma de minhas irmãs foi hospitalizada por problemas relacionados ao uso do cigarro. Não condeno ninguém por ser fumante, eu mesma já fui fumante por mais de quinze anos, e apenas por um pedido emocionado de meu filho, na época com quatro anos, o qual prometeu parar de chupar bico se eu parasse de fumar , pois havia visto na televisão que pessoas morriam por causa do cigarro, foi que abri os olhos para a extensão dos estragos causados pelo fumo. Isto ocorreu ha mais de dez anos atrás, mas nunca esqueço do desespero de meu filho, ante a possibilidade de ficar órfão, a ponto de desfazer-se do inocente "vício" de chupar bico.

Minha irmã sabe de todos estes riscos que corre sendo fumante inveterada, mas utiliza os mesmo argumentos que eu utilizava quando fumante:-"Ah. Todos vão morrer um dia! - Conheço gente que nunca fumou e morre de câncer no pulmão! - Fulano tem noventa anos, sempre fumou e nunca teve nada no pulmão!". São argumentos que eu mesma sabia serem apenas desculpas pela minha impotência diante do vício e estou ciente de que não fosse o "pacto" que meu filho praticamente obrigou-me à fazer com ele, não sei se não estaria fumando até hoje, pois é muito difícil livrar-se deste vício.

Não tenho a intenção de causar polêmicas escrevendo sobre este assunto pois nem mesmo usei estatísticas ou quaisquer outros dados que não fossem minha preocupação e temor pelos estragos irreparáveis que este vício causou e causa à minha irmã, pois entendo que cada um é livre para fazer suas opções. Apenas o faço como forma de desabafo e por acreditar que muitas pessoas passam por situaçôes semelhantes. Compadeço-me com minha irmã, pois vendo-a assim, com diversas complicações respiratórias e mesmo já tendo vivenciado os terríveis momentos pelos quais nosso pai passou, ainda assim não consegue abandonar o cigarro. Neste momento em que escrevo, chegou-me a notícia de que ela, após vários exames e nebulizações, já encontra-se em casa, o que tranquiliza-me um pouco.

Mas sei que amanhã, quando estiver sentindo-se melhor voltará a acender, sôfrega, o seu cigarrinho e com um sorriso nos lábios vai olhar a receita médica e guardar em uma gaveta, não sem antes ler a única recomendação prescrita; PARE DE FUMAR!

Helena da Rosa

07.12.2009