Um milagre de Natal

O Natal, originariamente, é uma comemoração cristã que celebra o nascimento de Jesus. E é bem verdade que ainda há quem fique reproduzindo a divina manjedoura como um altar de validade provisória onde se cultua Nosso Senhor. Porém, se há muita gente montando presépios aqui e ali, existem muito mais pessoas aprontando presepadas em todo canto. Infelizmente, o espírito cristão está mais nos discursos que nas atitudes do ser humano.

Ao que se saiba, não há notícias de que Cristo tenha tido algum contato com neve ao longo de sua vida. Contudo, a ditadura consumista transformou a data numa festa de hipócritas trocas de presentes e a recheou de símbolos de caráter bastante duvidoso. Além da própria neve, há pinheiros, que não nascem em qualquer lugar assim como as renas e, também, Papai Noel, que é um velhinho totalmente encapotado para enfrentar um frio que não grassa na maior parte deste planeta que está cada vez mais quente, tanto mais se veja destruída a camada de ozônio. E certamente não é o desmatamento desenfreado que há de dar causa a tantos trenós e chaminés.

Todavia, ainda resta uma esperança! Aliás, muitas esperanças! Teimo em acreditar que exista, de fato, um lado bom em todas as pessoas. E o espírito natalino, de uma forma ou de outra, acaba dando ensejo para que remanesça a hipótese, mesmo que remota, de que se instigue tal parcela mais sublime da alma humana.

Por que não alimentar a expectativa de que essa sistemática evocação cristã não possa suscitar a inspiração de uma nobre fé? Por que não imaginar que o estímulo em dar-se presentes não venha a transmutar-se num verdadeiro sentimento caridoso? Por que não sonhar que, a despeito de tanto egoísmo espalhado por aí, a generosidade e a solidariedade possam prevalecer sobre isso?

Sim! É tempo de Natal! Se puder, faça sua lista de pessoas a serem agraciadas com cartões e presentes; se lhe aprouver, enfeite sua casa com luzes e guirlandas e estrelas e anjos; se for seu costume, programe a ceia de Natal com seus entes mais próximos. Porém, se quiser realmente presenciar um milagre de Natal, vasculhe lá dentro de seu próprio ânimo e há de encontrar alguma bondade que lhe inspire e que possa sobreviver além desta época.

Transforme o que há de bom em você em algo melhor e mais duradouro de que palavras e atitudes que duram apenas uma noite. Crer em Deus é prerrogativa de quem tem fé. Acreditar em Papai Noel é faculdade de quem sabe sonhar. Entretanto, tornar a si mesmo alguém melhor é algo muito mais palpável e ao alcance de qualquer um e faz bem a todo mundo.

Tenha e faça deste um feliz Natal!

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