Falar de Tudo e de Nada (BVIW)

Ela veio das águas pedindo pra eu falar de tudo e de nada. Contar das grandezas dos céus das pequenezas do grão de areia. Falar dos lírios que são vivos nos lábios de toda menina que é feitiço, que é gosto de riso, que é prazer.

Eu tentei avisar a ela, que sempre que tento engasgo que sou mais muda que samambaia miúda, que não falo bem, não por mal, só falo mal. Minha língua prende na frente do microfone, do megafone até no interfone tudo que falo entra no embalo de um tom do som que não sai normal. Não que seja por mal, só não sei falar afinal.

Disse que poderia ter ido pedir para nossos parlamentares, eles falam tão bem. Mesmo enquanto agem tão mal. Seria pra eles natural falar de nada, já que é o que fazem de real, e que pra isso não ganham mal.

Ela disse que parlamentares não dariam! Eles não sabem do tudo que esta no entorno de um cílio caindo na mão. Do mundo inteiro que é um único rosto na multidão. Do inexpressível que nos consome e entre nós vaguei. Como rolo com preensor de mentes vazias, absorve as crianças com tantas porcarias na TV e na internet.

Ela veio pedir pra falar da cultura tão crua, tão nua, sem apoio, tão marginal. Que sem ela, o homem se torna animal que se desconhece, que a própria alma não enriquece. Não se conforma no ser, aprendendo a solidão de só estar.

Ela era a verdade dos tempos. Veio dizer, que todo aquele que escreve tem que com ela se entender, se comprometer. Examinar suas sugestões, aprender com ela a falar do tudo e do nada que nos une e nos separa. Porque toda verdade pelo escritor lapidada é coisa rara, que dele não se separa em seus textos, em seu mundo, na sua eternidade. Na sua posterioridade e na sua decisão de ser um ser profundo conector de mundos.

Alias
Enviado por Alias em 07/12/2009
Reeditado em 07/12/2009
Código do texto: T1964969
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