Acordo numa cama king size  americana,sem enfeites nem cabeceira;disseram-me que os colchões de barriguda estavam demodés,bem como os dosséis e as velhas camas de madeira,tão difíceis de limpar.Ali nasceu minha mãe,eu nasci e nasceu meu  filho mais velho;mas,rendi-me á moda,outros tempos,não vou ficar prá trás. Vou ao banheiro,que agora é suíte,com duas pias para que meu marido e eu possamos usar ao mesmo tempo;embora eu ache que lavar os dentes não é um espetáculo bonito prá se fazer em frente do outro,apanho minha escova oral-B americana(aquela,cujo azul desaparece quando gasta prá que a gente se lembre de trocá-la)pego minha pasta Colgate, que tira 12 problemas bucais ao mesmo tempo(minha bisavó lavava seus dentes com folha de juá e nunca teve uma carie,nos 95 anos que viveu).

Tomamos um banho juntos,meu marido e eu,com sabonete ecológico da Natura(quem fala mais no velho Palmolive!?);não esqueço de hidratar o corpo com Nívea,usar um desodorante anti-perspirante,porque não é de bom tom aparecer o cheiro do corpo.O “odor di femina” não está mais na moda.Visto jeans e camiseta,com a marca do fabricante bem á vista,fazendo propaganda gratuita e alugando minha bunda para que aquela marca de jeans fique bem á vista,porque tenho que ser chique;e,chique é parecer com toda gente.Sem muito o que fazer vou ao Xópping,visito lojas que me dão a nítida e gostosa sensação que estou em Miami;moças experimentam soutiens e calcinhas,abrindo   e expondo essas peças,que no meu tempo eram íntimas e,hoje estão á vista de toda gente.No tempo das calçolas e califons, eram peças feitas em casa,ás vezes bordadas pelas donas,com rendas,ponto casa de abelha ou ponto cheio.A da noite de núpcias,de seda ou cetim,cheia de rendinhas e bordados.;hoje,devem estar em algum museu do vestuário.Vestidos “made in Korea”,de tecido vagabundo,comprados,sem dúvida na 25 de março e elevadas ao nível de “haute couture”,porque pespegaram nela uma etiqueta de marca,vendidas pelos olhos da cara e disputadas  a tapa por moçoilas em flor,que têm que se vestir igual á novela.Uma garota gorda passa por mim carregando uma letra enorme,pendurada numa corrente;assusto-me-,pergunto:-o que é isso?-será que voltamos ao tempo da “Letra Escarlate”,quando se marcava as mulheres indesejáveis? Meu neto me diz:-è a última moda da novela.Eu que não vejo novela,conformo-me:-Ah,bem!

Uma passadinha na livraria;não posso ver uma,sem entrar.Livraria de Xóping! tem livros esotéricos,auto-ajuda(que ajudam bastante os autores a subir na vida),livros de jornalistas globais,dados como best-seller na Veja mas,que só  ele e a mãe leram;livros que ensinam como fazer amor,técnicas de sedução,como fazer um macarrão,como se vestir,como emagrecer,porque seu corpo tem que ser como eles querem,e,uma bela morena da Bahia,que graças á miscigenação recebeu da natureza uma linda bunda empinada e seios fartos,tem que virar uma nórdica desbundada  e despeitada,porque é assim que funciona.Nossos estilistas,quase todos gays,querem eliminar a concorrência?Será que é por mostrar demais,perfumar-se demais,acabou o mistério da mulher-que virou carne pendurada em açougue-e isto está afetando a libido masculina?Ando pensando nisto.Tesão é feito de mistério e fantasia;o sexo começa na cabeça,refiro-me á de cima,é claro.Lembro quando,antigamente,a gente cruzava uma perna,mostrava a curva dos seios,os homens todos ouriçados,inquietos,um cheiro de libido solto no ar.Saio da livraria,meu neto quer um MacDonald, fazer o quê?,Não vou remar contra a maré.Pago e vou atrás de uma casa de chá para mim.Com croissants e tortinhas.

 

Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 07/12/2009
Reeditado em 07/12/2009
Código do texto: T1964737
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