Visão de arquibancada...
Visão de arquibancada
Desde pequeno, a partir de quando passei a me entender por gente, sempre tive muita dificuldade em aceitar o cabresto que tentavam colocar em mim, potro jovem e afeito ao livre galopar pelas pradarias sertanejas, a driblar as arestas dos calumbis.
Com o passar dos anos procurei entender o porquê da maioria dos seres humanos seguir, tão bovinamente, determinações impostas sem qualquer questionamento, algo impensávelpara mim. O meu ouvir, no mais das vezes sempre musical, registra a música “A Terceira Lâmina” de Zé Ramalho e, particularmente, uma de suas passagens: “ Eh, ooooô vida de gado...povo marcado eeeê...povo feliz!” como sintetizando tudo o que estou a escrever aqui.
Retomando o fio da meada, explico que sempre a minha primeira reação a algo do tipo, é espanar o lixo que tentam deixar em frente de minha moradia mental. Mas, com os longos anos de aprendizado em filosofia, penso sobre qual a razão da agressão recebida, procurando entender o comportamento de quem tenta se utilizar do bom e velho cabresto das conveniências.
Quase sempre compreendo que cada um, com raríssimas e muito prá lá de honrosas exceções, reage dentro de seus condicionamentos e/ou predileções, dificilmente se isentando quando o assunto lhe diz respeito diretamente.
Prá contrariar o andar da carruagem, sempre busco “sair do jogo” e ir para a arquibancada, de onde tenho uma visão muito mais ampla dos acontecimentos, dos eventos que me são dados a analisar.
Não receito tal comportamento como panacéia, mas, deixo bem claro que é esta a maneira que este filho dos sertões, criado entre os espinhos dos mandacarus e a impenetrabilidade dos calumbizeiros que lanham o corpo dos incautos, encontrou: de não seguir, pacificamente, o ritmo da boiada em direção ao abatedouro.
Escrito em São José dos Campos, cidade do Vale do Paraíba, aonde este sertanejo encontrou guarida depois de muito bordejar sem rumo.
Vale do Paraíba, Novembro de 2008.