SOU BEM MULHER

Se existe uma coisa que me aborrece é falso moralismo. Por esta razão, considero-me uma pessoa super aberta a novos saberes, novas amizades e respeito profundamente as opiniões e opções alheias, contanto que haja reciprocidade no respeito às diferenças e escolhas que eu mesma faço.

Por achar que tudo tem um limite, penso que o respeito às diferenças seja mais uma questão de simples convivência do que uma obrigação em razão do contexto social no qual estejamos inseridos, por ocasião do movimento de inclusão e respeito à diversidade. Apesar de me considerar uma pessoa seletiva em relação a tudo, sou bastante flexível e eclética. Isso não significa que aceite tudo de bom grado. Como já disse, tudo na vida tem limite. E minha tolerância acerca da diversidade finda quando alguém tenta invadir ou ferir meu direito de escolha. Não há nada mais abominável na natureza humana do que tentar interferir no desejo do outro.

Há um adágio popular que diz “diga-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Na verdade, este dito popular, ao meu ver, nada mais é do que uma declarada ameaça social em relação ao falso moralismo que a sociedade nos impõe. Por exemplo, tenho amigos gays e respeito profundamente a opção deles, o que não me torna, por assim dizer, gay também. O que me tira do sério é quando alguém deixa de respeitar a minha preferência, inclusive diante de minha negativa. Detesto imposição, sou antes uma negociadora. Posso tentar persuadir pela argumentação, mas não insisto em desfazer das convicções alheias.

Tenho recebido e-mails e mensagens de uma “amiga” que fiz, virtualmente em um site de escritores. Até onde entendo, essas comunidades se fazem por interesses afins (no meu caso, ingressar numa rede de escritores é por amor as letras, no afã de compartilhar informações e ideias sobre literatura). Entretanto, interesses obscuros se escondem por trás de boas intenções e, por esta razão, devemos dar um basta em situações que nos melindrem ou nos exponham publicamente. Fico profundamente chateada em receber declarações de amor de outra mulher, principalmente porque em nenhum momento a incitei a esse comportamento ou demonstrei interesse pelo mesmo sexo. Sou bem mulher e minha preferência sexual é o ponto em que o direito dela acaba onde começa ou meu. Não sou preconceituosa, mas por favor, respeite a minha opção.

Esse é o limite que, penso eu, todo o ser humano deveria respeitar. As escolhas que eu ou qualquer um de nós fizer, de maneira alguma podem atingir os outros. Somos responsáveis por nossas escolhas - e tão somente por elas – penso que o respeito à diversidade deva ser efetivo, também, pelo outro lado. Seu desejo termina onde começa o meu. Respeito sua diferença, portanto respeite a minha.

Patrícia Rech
Enviado por Patrícia Rech em 06/12/2009
Código do texto: T1963840
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