O PODER
 
 
            Uma barata não pode alcançar o poder. A barata tem estirpe, uma classe social entre os seres e não se consegue mais “estirpá-la” se ela alcança o poder. Assim é o Governo de um Estado. Neste, não se pode ter o menor descuido e vigilância para não se permitir que qualquer um alcance o poder.
            Que ou aquele que alcança o poder torna-se uma barata, ou como uma alastra o seu alcance e jamais o larga; infiltra-se e se propaga em mentes e mãos. É tomado pelas possibilidades de possuir, de transformar em alimento e reprodução de iguais a sua espécie, de influir, sente-se potente, domina o bom e o ruim, infiltra-se por todos os meandros não se importa se miséria ou riqueza, se belo ou feio, não distingue mais entre o bem e o mal, nem o meritório como o asqueroso demérito. Nada lhe é superior, nem o santo, o puro ou o poeta. Não há essência especial para ele, tudo cheira igual àquele fétido odor que as baratas adoram e disseminam por onde rastejam e voam, e escalam, e alcançam e instalam o seu poder e a sua contaminação, bem como a sua proliferação, os vis, os impuros, imorais, abjetos. Só perseguem a essência dos asquerosos, bandidos, contraventores, assassinos, corruptos, dos sem leis, incultos, egoístas e patológicos.
            A sua força é a sua fragilidade.
            Com uma pisada se esmaga uma barata.
            Então o poderoso proclama e amplia a sua abrangência. Asco não tem, pisa no lodo podre assim como pisa no terreno rico de possibilidades. Destrói o belo e o bom e não constrói nem o bem nem qualquer outra coisa. Só consome em causa própria, multiplica-se e se estabelece.
 
            Só o voto pode eliminar um Mané que atingiu o poder, assim como se pisa numa barata invasora do seu lar.