MELANCOLIA

Hoje eu poderia chamar-me assim. Melancolia. Um nome que, por si só, já denota a tristeza, o vazio que me toma por inteiro. Um vazio que nada preenche. Uma tristeza que chega a ser física. Como se fosse possível um lugar ser vazio, estando cheio de tristeza. Será que a alma dói? Se dói, eu tenho certeza que ela tem morada no peito, no órgão vital de nossa vida, o coração. Sei que tristeza é parte da vida, uma reação natural diante de uma perda. Sei que há pessoas emocionais, como eu, e que essa sensibilidade faz a tristeza parecer maior. Outras nem ligam e até riem da nossa sensibilidade. Diferenças existem. Ninguém é igual a ninguém. Alguns demonstram, outros não. Alguns sentem mais, outros parecem não sentir. Mas, creio que, no íntimo, todos sentem. O que difere é a forma de expressar a tristeza.

Minha tristeza, neste momento, não tem causa real; é algo mais sutil, como se um grito de dor, originado na alma, ecoasse no meu coração, nublasse meu olhar, fechasse meu semblante e meu pensar infeliz. Uma vontade de chorar, embora as lágrimas não caiam dos olhos. Estou chorando por dentro. Na superfície nada se nota. Mas, nas profundezas de minha alma se agigantam ondas furiosas. E eu me quedo nesta melancolia sem causa aparente, sem razões. Não há perda nenhuma. Tudo está certo. Não há razões para ficar triste. No entanto ela está ali, como um carrasco, pronto para decepar minha esperança. Eu acho que esta tristeza é mais que uma perturbação psicológica. Acho que tem a ver com sensibilidade frente a dimensão trágica da vida. A vida é trágica no sentido de que, tudo o que a gente ama, vai mergulhando no rio do tempo. A vida é feita de perdas. Perdemos pessoas queridas para a vida e para a morte.Tudo flui, nada permanece. A perda em vida é mais dolorida, porque a pessoa está ali, visível aos nossos olhos, mas distanciou seu coração de nós. E a ponte é pêncil. Atravessar esse rio que separa as pessoas em vida, é mais difícil do que parece. Há choques de opiniões, atitudes que magoam, frieza no convívio, afastamento. A beleza efêmera das coisas que uniam as pessoas vão mergulhando no escuro da noite. A perda não é física; ela é sutil e mata, pouco a pouco, a cumplicidade e a confiança. Palavras não ditas magoam. Palavras ditas são irrecuperáveis e seus danos quase sempre irreparáveis.

A alma é um cenário. Por vezes ela é uma manhã brilhante, inundada de alegria. Noutras é como o pôr do sol, que se despede triste e nostálgico. A vida é assim. Tristeza é preciosa, torna as pessoas mais ternas e prova que estamos vivos. Mas, se é crepúsculo o tempo todo, algo não está bem. Alegria é preciso, porque ela é que fornece a chama que dá vontade de viver. Deve haver um limite, um combustível para que a tristeza seja intercalada com a alegria. Tristeza só é muito perigoso, leva as pessoas ao desespero e a morte. É por isso que os deprimidos, os melancólicos, os tristes, querem dormir o tempo todo. Dormir é uma morte reversível.

Peço perdão por não poder escrever, hoje, coisas alegres, mensagens de incentivo para as pessoas, tão carentes de esperança. Sempre disse que me sinto em casa no Recanto. E que lugar mais adequado que nosso lar, junto aos seres que nos respeitam e amam, para despirmos nossa alma, mesmo que ela esteja triste? É para isso que servem os amigos. Para nos sustentar quando nossas asas estão feridas e nos impedem de voar. Quando estamos com dor de cabeça, tomamos aspirina, sem vergonha nenhuma. Quando estamos prestes a sucumbir emocionalmente, procuramos os amigos. E aí também não devemos sentir vergonha. Porque a dor da alma é, a meu ver, mais fatal que a dor palpável e situável que qualquer medicação resolve.

Como já disse acima, não quero repassar esta tristeza. Quero colo dos amigos maravilhosos que fiz aqui no RL, para me dar consolo e expulsar essa melancolia intrometida que ameaça meu viver. Sei que conto com a compreensão daqueles que acompanham minha história de vida e que viram, ao ler minhas crônicas anteriores sobre alcoolismo, que eu evoluí bastante. Sabem que lutei com todas as minhas forças e com todos os recursos disponíveis para sair do fundo do poço. Não quero regredir, sei que ninguém regride, apenas estaciona. Nosso espírito se fortalece a cada conquista interior. Eu já estou forte e equilibrada quanto a isso. Só que hoje, apesar de todos os esforços, a tristeza se instalou e há dias me incomoda. Não sou melancólica. Estou melancólica. É diferente. Ser é um estado permanente. Estar é momentâneo. E eu sei que a LUZ que direciona meu caminho, está atenta e me reconduzirá novamente ao caminho florido, alegre e consolador da fé.

Perdoem, se puderem, este meu desabafo. Pensem em mim, vibrando no fluído universal que corre em nossa alma e que nos transformará e nos faz, desde agora, anjos-humanos em plena evolução. Um dia todos chegaremos à "terra prometida", e para isso temos que retirar do caminho as pedras que sangram nossos pés. Plagiando Roberto Carlos: "Uma pedra no caminho, você pode retirar..."

Já estou melhorando, a tristeza cedendo, a melancolia evaporando. Obrigada Recanto das Letras, obrigada amigos que aqui fiz. Não tenho muitos ainda, porque iniciei a pouco. Mas os que tenho, não quero perder. Quero contar com vocês por muitos anos ainda. Sei que estarão presentes e eu comprovo cada vez que leio os comentários de fé, confiança e esperança que me transmitem. Repito: são poucos, mas fiéis. Isto é o que importa e me dá consolo, alegria e vontade de viver.

LUZ e PAZ para todos!

Giustina
Enviado por Giustina em 06/12/2009
Reeditado em 06/01/2014
Código do texto: T1962641
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