QUANDO DEZEMBRO CHEGAR...
Eu adoro o mês de dezembro, meu mês favorito depois de maio, e tudo que ele representa. Infelizmente, este ano, meu calendário atrasou e o mês de dezembro ainda não chegou. Continuo olhando em volta, mas não consigo sentir o clima de festa. As luzes ainda não acenderam em mim. O brilho externo ainda não refletiu em meu interior. Os sinos ainda não estão repicando em meu coração.
Acho que ainda é setembro. Algum mecanismo desengatou em meu calendário interno e este mês insiste em não terminar. Os cortes que ele fez em minha alma foram muito profundos, por mais que eu tenha cuidado, alguns arranhões permanecem por lá, sangrando. Fico me obrigando a sorrir, a me animar, mas não adianta querer sentir o que não sinto, ou sinto, mas de outra forma.
Por minha alma tem vazado oceanos de dores e acredito que isso está me afogando na melancolia. Queria dezembrar. Festejar. Sorrir com a mesma facilidade. Afinal é quase natal – minha festa preferida. A festa da família, da confraternização, do reencontro.
Natal sempre representou um momento mágico em minha vida. A expressão maior de amor, paz, comunhão e felicidade. Para mim o natal sempre começava no primeiro dia de dezembro e só terminava dia vinte de janeiro, depois da procissão de São Sebastião em Caraúbas.
Preciso criar ânimo para passear pelas ruas de minhas saudades sem chorar, sem escorregar nas pedras deixadas ali pela tristeza. Quero voltar a correr pelos campos de minhas lembranças sem sentir esta insuportável dor no peito. Preciso de meu sorriso. É ele que me fortalece.
Tenho vasculhado, cuidadosamente, o calendário de meus dias, preciso encontrar dezembro, ele tem que estar em algum folhinha, esquecido em alguma gaveta, amassado em um canto qualquer de minha alma desatenta. Quero encontrá-lo e pintá-lo com as cores da alegria. Jogar para bem longe a poeira, perfumá-lo com essências tiradas das doces recordações de tantos outros natais.
Quando dezembro, finalmente, for colocado de volta no calendário, terei reencontrado minha alegria e retirado esta cortina de tristeza que impedia a entrada do sol na varanda de meu olhar. Estarei vestida de vermelho vida, por dentro e por fora, e aos poucos irei me libertando deste setembro sem primavera.
E neste dia, se ainda for dezembro, oficialmente, andarei pelas ruas iluminadas de minhas recordações deixando-me inebriar pelas cores, sons e cheiros do natal. Mas, se meu calendário não entrar em sintonia com o gregoriano, receberei dezembro em qualquer mês e nele farei uma festa. A festa da vida, ao som de Simone.
Enquanto isso, vou me despedindo deste interminável inverno fora de época que se prolonga desde aquele fatídico dia onze, apanhando as folhas secas deste outono e regando as sementes da esperança para que a primavera desabroche com todo vigor, mesmo que seja verão.
Porque eu sei que dezembro vai chegar. Que as flores vão abrir. E minha alma vai sair deste tenebroso inverno e cantar (...) então é natal...