Poupança de memórias
Existe uma mercadologia psicológica insuspeitada, tramitando nas bolsas de nossos valores pessoais. Por esse ângulo, pede-se uma postura de investimentos diante da vida; que se faça uma poupança de todas as nossas lembranças. Desde as quais nos lembramos com prazer até as que temos desprazer em lembrar. No final das contas não somos poupados com o que fomos, mas, com o quê somos.
Logo cedo começamos a poupar umas memórias aqui, umas pequenas lembranças ali e o nosso pé de meia mnemônico vai se avolumando. Tempos difíceis podem estar por vir. E nesses momentos podemos lançar mão de nossos proventos de recordações para saldar algumas dívidas e dúvidas acumuladas pela vida. Descobrimo-nos economistas a traçar planos de estabilidade que assegurem rentabilidade de satisfação a longo prazo.
Depois de muito poupar pensando em um final de vida “feliz e tranqüilo”, nos veremos de mãos vazias diante do que nos for imposto como irrevogavelmente imposto é. Nossa memória se vê impotente diante da virada de regra do mercado das ações e reações a que tanto estávamos acostumados perdulariamente. Fechamos para balanço e o que mais balança são nossas crenças desvalorizadas e nem ao menos servindo para troco. E pensando bem (mesmo mal também) a troco do quê, não é mesmo?
Com o cofre da consciência abarrotado de vazias lembranças, nos vemos como sempre fomos: híbridos; uma junção de fortunas sem valor e valores que desafortunadamente ninguém reconheceu.
Assim, sentados perdidos em circunspecções, rigorosamente induzidos e deduzidos, volteamos às memórias como último vintém poupado na esperança de poder adquirir “vida nas recordações”. Pagamos por um bem vitalício e o que recebemos, descontadas todas as nossas pendências, mal cobre o que deixamos pendurado: o consumismo de nós mesmos.