CRÔNICA- ASSALTOS E SOBRESSALTOS

Sexta-feira, 7 da noite. Tenho uma reunião marcada e não posso faltar. Saio apressada pela rua. Um sentimento esquisito, um receio inexplicável me vem. Não estranho essa estranha sensação: deve ser a mesma que todo cidadão de bem anda tendo ultimamente.

Sigo pensando que a rua está deserta demais para o horário. Não estará muito escura também? Tanta árvore parece ter diminuído a claridade e a visibilidade para quem transita pelas calçadas. O perigo pode estar aí, atrás de algum tronco, de algum canto de muro, de alguma sombra, a espreitar os mais desavisados.

O fato é que nós, interioranos e, principalmente, os remanescentes de outras gerações e de tempos mais tranquilos, ainda não acreditamos que as coisas mudaram e todo cuidado é pouco. Quem gosta de admitir que nossa pacata cidadezinha, tão boa de se viver, não é mais a mesma?

Fico entre a dúvida e a perplexidade: durante o dia ouvi pelo rádio, notícias que, mal posso crer, agora são comuns em nosso cotidiano. Por exemplo, hoje, aqui mesmo onde tenho que passar, numa rua outrora pacífica e sossegada, ocorreu um assalto à mão armada, às 13h, em plena luz do dia. Não bastasse isso, o noticiário ainda reforça “só nesse ponto, nessa esquina, este é o terceiro assalto”... Entre sobressaltos chego à minha reunião. Ufa! Que aventura! Ainda bem que devo voltar pra casa de carona com uma amiga...

Sábado, 8 da noite. Vou à padaria. As ruas desertas mostram um cenário próprio de um centro comercial em horário noturno. De repente eu os vejo. São três tipos esquisitos, eu acho. Penso logo que têm cara de suspeitos. Incrível! Nem sei quem são, mas cismo que estão olhando demais a vitrina de uma loja. Não evito um pensamento fatal: estarão tramando alguma coisa? Inofensivos ou não, acabo por me desviar e apertar o passo...

Segunda-feira, 2 da tarde. Estou de folga em casa. Alguém chama lá fora querendo mostrar equipamentos de segurança. Recebo a vendedora com “um pé atrás”. Ela me explica num longo discurso de “marketing” as vantagens de suas câmeras de circuito interno e a eficácia de seus alarmes. Faz uma explanação detalhada sobre a importância de se investir em segurança

Olho bem a cara da moça. Ela já não me parece tão digna de confiança. Com um conhecimento, em minha opinião, exagerado, ela descreve os últimos golpes da praça. E ainda me diz:

― Você sabe que correu um grande risco ao abrir o portão pra me atender? Hoje a coisa não está brincadeira!

Mil pensamentos atravessam de uma vez minha cabeça. Estremeço: e se ELA também for uma golpista? Por que, não? De repente, os seus produtos, tantos folhetos e tantas condições facilitadas de pagamento me parecem mais uma farsa para engabelar pobres vítimas ingênuas. Serei eu esta vítima?

Subitamente, com uma energia surpreendente me decido: não quero nada, fica pra outra vez, não tenho dinheiro, estou cheia de dívidas no momento, tenho compromisso com meus próximos dez meses de salário, e por aí vai... Vale tudo e qualquer coisa que me livre desta pessoa surgida do nada, que me oferece segurança, mas só Deus sabe com que intenções! Tudo é sempre tão suspeito! Hoje em dia, nunca se sabe...

MARINA ALVES
Enviado por MARINA ALVES em 05/12/2009
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