INFLUÊNCIAS CULTURAIS
INFLUÊNCIAS CULTURAIS
A capacidade evolutiva de uma etnia ou de um povo define-se pela repercussão dos seus feitos na história. Os cérebros pensadores ou os bravos guerreiros, conforme os usos e costumes de cada nação, destacam-se internamente e tornam-se mitos sob diversas formas, dimensões e denominações, dentro dos limites de aceitação dos meios que atingem.
É voz corrente que em terra de cegos, quem tem um olho é rei. Com isso queremos dizer que a evolução da África antiga foi muito lenta e que seu vazamento para outros países deu-se exatamente pelo cataclismo político que levou milhões de cidadãos africanos à escravatura, cuja idealização e comercialização europeia colocou os povos negros e sua cultura em contato e intercâmbio com outras nações. Há de se convir que o preço pago por eles por essa miscigenação humana e artística foi muito alto, mas, somando prós e contras, valeu a pena todo esse sofrimento. Essa lentidão no processo cultural africano deveu-se, ainda, e podemos afirmar que admiramos, por isso, os povos primitivos, na tese de que foram o início de todas as raças com o surgimento no continente africano do hominídeo, que marcou o princípio da humanidade, por assim dizer, inrteligente, por terem construído sua cultura através dos meios ao seu alcance: suas crenças e suas lendas.
De modo algum – e é daí que provém, em grande parte, a discriminação desses povos – devemos menosprezar os traços culturais das primitivas aglomerações humanas, sua evolução lenta, mas progressiva. Somos, também, profundos admiradores desse tipo de evolução por se construír real e verdadeira. São exatamente reais e verdadeiros esses traços culturais, por nascerem de mentes amadoras da inteligência em formação e ainda não poluídas pela causticidade da hipocrisia, do orgulho e do menosprezo ao simples. Essa cultura, pelo contrário, tem por base o próprio conceito no fundamento da vivência em etnias e essa criatividade, desprotegida da geração de costumes oriundos das técnicas, hoje convencionais e modernistas, dos povos em plena civilização, foram originados dentro dos limites do material didático ao seu alcance e pelos meios em uso dos costumes daqueles povos.
À cultura dos povos de pele negra e às lendas em profusão, mormente de cunho religioso, criadas pela mente simples dos povos das tribos africanas, muito deve o folclore brasileiro. É uma transposição daquelas lendas para a nossa música e, por que não, para os costumes e rituais religiosos que se cultivam paralelamente com os usos e costumes do mundo moderno. Há de se convir que, principalmente no Estado da Bahia, onde um outro ingrediente tem forte influência – a culinária – é polo dessas tradições. Quando falamos nas lendas religiosas referimo-nos ao culto aos orixás, existido maior número de “terreiros” naquele Estado, cujas origens têm raízes no tempo da escravatura. Mesmo o culto a Iemanjá, que se tornou folclore em todo o território brasileiro, é a santa (orixá) de culto da Etnia Egba, uma região interiorana da África, que com menor intensidade, no restante do solo brasileiro, esses cultos são praticados em todos os Estados. E não fica só na religiosidade essa adoção cultural. O folclore de diversos estados está repleto de mesclas de costumes, danças e ritmos, que denominamos de afro-brasileiros.
Sem que haja nisso intenção de ferir tradições religiosas, dogmas ou cânones ou qualquer outra convicção de fundo espiritual, essas crenças e práticas do povo brasileiro criaram raízes tão profundas que, à sua menção, a mente simples e sofrida do nosso povo, ainda hoje, confunde santos da religião oficial com as figuras legendárias da cultura africana. Essas fortes correntes legendárias somaram positivos valores ao já rico folclore e aos próprios ritmos da música popular brasileira. E, veja-se, tiveram origem em tempos ignotos imemoriais; tempos em que os europeus ainda não haviam descoberto que o Saara era transponível e que as correntes marítimas levavam às costas africanas.