O atropelamento de 30/11/2009
Era segunda-feira e eu estava muito bem disposta. Tinha mudado o corte de cabelo e apesar de ser o último dia do mês ainda tinha uns trocados na carteira, isto era um tanto inédito.
Como sempre me perdi no horário com os afazeres antes de sair para o trabalho, de forma que subi a ladeira da minha casa e na avenida próxima ao ponto de ônibus quase correndo, respirava com muita dificuldade, parecia uma asmática, mas ainda assim feliz.
Eu calçava uma sapatilha marrom que era muito confortável e com ela eu fazia todos os movimentos a cada passo, percebia-me exercitando todos os músculos da perna e quadril; naturalmente mexia, involuntariamente, também os braços para manter o equilíbrio natural. Sentia-me viva e feliz.
A roupa que usava era bem confortável, uma calça jeans clarinha, de pernas justas e uma batinha de linho, nada me apertava, mal que sempre aflige os gordinhos.
Lembro-me de ter passado sorridente em frente da fábrica dos óculos, quando vi que as funcionárias já estavam abrindo a loja apertei ainda mais os meus passos. Percebi que olharam para mim, provavelmente tentando imaginar a razão do ar de felicidade que eu tinha no rosto.
Dobrei a esquina e vi que se quisesse atravessar na faixa de pedestres deveria ter paciência, pois o sinal acabara de abrir. Como meu ônibus para o trabalho estava para passar decidi caminhar um pouco até a próxima quadra para então atravessar.
Assim após chegar à outra quadra, esperei uns segundo até que o sinal se fechasse e os carros se enfileirassem, todos parados. Um ônibus parou e eu ergui o braço para que ele não saísse e corri para aproveitar que tudo estava parado a minha frente atravessando muito depressa fora da faixa entre os carros todos estáticos defronte do sinal vermelho.
Entre a calçada e o lado do motorista do ônibud, foi uma questão de segundos que eu mantive meu braço levantado, meu olhar sorridente e brincalhão que dizia ao motorista em bom tom:
- CUIDADO COMIGO, NÃO ME ATR.... E não pude concluir a frase quando fui apanhada por uma moto.
Na verdade naquele instante que pareceu durar muito eu deixei meu ar sorridente e fiquei perplexa, assustada mesmo sem entender o que me levava no sentido quase contrário e com tamanha força, pois a moto saiu detrás do ônibus e eu não a vi de modo algum. Com certeza o mesmo deve ter passado pela mente do motoqueiro. Também fiquei sem saber por uns segundos onde estava se ainda estava viva.
Não perdi a consciência, digo não desmaiei, toda esta sensação de arrebatamento foi algo instantâneo, mas absolutamente profundo que me fez refletir o quanto é necessário estarmos bem com Deus, pois num piscar de olhos podemos partir.
No instante seguinte meus olhos foram abertos. Consegui me levantar do chão sem ajuda e rapidamente quando vi o motoqueiro estatelado ali, só consegui pensar nele, sem me preocupar comigo, senti-me tão culpada que emendei várias vezes a mesma frase: - me perdoe moço, vem que eu o ajudo levantar. O que era totalmente indevido para normas de primeiros socorros, mas naquele momento eu as esqueci por completo delas, tudo que sabia é que queria vê-lo bem.
Ele custou a conseguir levantar a cabeça e ainda atordoado me deu a mão e consegui levantar-se percebendo as avarias em seu capacete que acabara de salva-lo de algo muito grave, pois no momento do choque ele foi jogado para o lado contrário a mim e batera sua cabeça com muita força no pára-choque de uma perua Sprinter.
Sprinter essa, cujo motorista saiu, olhou para os danos em seu carro, deu uma bronca em mim e no moço e foi embora, enquanto nós ficamos ainda uns segundos parados no meio do trânsito sem saber o que fazer a não ser nos desculpar-nos um com o outro e saber se o outro estava bem.
Até que com ajuda de alguns transeuntes fomos levados para a calçada, juntamente com a moto que estava com o guidão entortado e o retrovisor quebrado.
Peguei o celular para ligar para casa e pedir ajuda, mas ele estava sem bateria. Somente naquele momento uma moça percebeu que além de estar tremendo muito minha blusa rasgada na barriga mostrava as escoriações da mesma, meu braço esquerdo tinha um hematoma enorme e só então eu percebi que meu braço tinha que ficar levantado, pois o pulso doía demais.
É engraçado como até aquele momento todas as minhas dores foram imperceptíveis devido ao susto e minha preocupação com o rapaz da moto, que até onde soube depois já que trocamos os telefones, teve algumas dores na cabeça e no ombro, mas passava bem.
Eu fui afastada do serviço com tala no braço direito, hematomas na barriga, cabeça, braço esquerdo e pernas e com algumas lições básicas que todos conhecemos, porém poucos de nós praticam. Lições estas que agora tento dividir com meus leitores:
• Sempre atravessar as ruas somente na faixa de pedestre.
• O que pode lhe causar mal pode não ser grande e nem visível..
• Esteja sempre em dia com Deus, sua família, seus amigos, em um segundo tudo pode mudar ou acabar.
• Não deixe coisas importantes para depois.
• Acorde mais cedo para não ter que correr em busca da vida e encontrar a morte.