CONVERSA NA MADRUGADA
 
 



Heloísa não é uma mulher comum. Executiva de uma multinacional, independente financeiramente, viaja o mundo a trabalho. Preferiu não ter filhos, mas adora crianças. E mima oito sobrinhos como toda tia coruja.

Somos amigas há anos. Temos algo em comum: a decisão de não ser mãe. E além do mimo com os sobrinhos, morar um tempo fora do país, casadas com italianos, ponto final nas afinidades.

Outro dia, acordei assustada com o toque do celular (quando estou em viagem o aparelho fica vinte e quatro horas ligado para minha "alegria"). Atendi sem nem ao menos entender quem era! Explico: quem eu era! E escuto:

- Fulano não fala mais comigo! Tentei ligar várias vezes e nada! O que pensa que é? Será que perdeu a noção de respeito? Foram anos de dedicação a esse homem e de repente, ele se cansa de mim e passa a agir como se eu não existisse! Estou péssima! Preciso desabafar.

Por alguns minutos achei que era sonho e confesso, quase adormeço enquanto ela falava, até que de repente, um berro no ouvido:

- DOL-CE! Está me ouvindo?

- Hum? Quem é mesmo?

- Eu não mereço isso! Até você?

- Não sou Brutus! Fique mais calma... você irá sobreviver. Seu valor não está na opinião dele. Faça o possível para não dar razão ao que ele pensa sobre você. Por isso, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!

- Não seja fria... Estou sofrendo.

- Mais um motivo para se cuidar melhor. Deixe de ser fria com o seu sofrimento e não o aumente mais. Essa história se arrasta há mais de um ano! Vire a página antes que sua vida não passe de um capítulo sobre ressentimento.

- Você acha que não o amo.

- Não importa o que acho porque não mudará a situação. A vida é sua.

- Vida que segue?

- Conhece outro jeito de respirar sem um rochedo na gargan
ta?

Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 04/12/2009
Reeditado em 04/12/2009
Código do texto: T1960233
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