O melhor é esperar

Mas e as belezas radiosas? São acessíveis ao preço imposto.

Penso em matar-me de vez. Sair deste mundo infernal. A morte é a fuga do amor fragmentado em mil pedaços. O amor devorado necessita do amor inexistente. Resta então a visão do paraíso ao longe. Feito apenas da promessa. Talvez não seja morrer, mas cantar, sorrir, abraçar, sentir a felicidade maior no ambiente fechado. Escapar do recanto aflitivo, aberto graças ao pedido de riqueza diante do trabalho escasso. Desaparecer da fonte desse velho ser equivocado para romper o engano inadequado às práticas mecânicas e baratas.

Penso em liquidar-me com calma e serenidade socrática. Parar de lutar por teréns que a qualquer momento podem cair em mãos alheias, garras ávidas de objetos e despojos. Razão de todo o mal e todo o canto colorido.

Devia vender-me como escravo? A liberdade parece advir da noite estrelada com profusão e alento nessa obscura liberdade dos bens, filha da transposição do momento desconhecido inserido na letargia, após o reconhecimento de tanta exterioridade inútil. Ó alma da inútil vaidade!

Próximo do Natal o corpo presente reluta em se apagar. Tudo brilha conformado, tudo cintila diante do perfume. É melhor esperar, ter paciência, conviver sem garantir o sentido exato das palavras doadas ao mundo. Prosseguir inexplicavelmente sem progresso nessa terra ribeirinha onde é impossível fugir. Divinizar-me apenas a ponto de recuperar algo desfalcado, sem remédio e sem dádivas. Ser Deus do próprio elogio como todos fazem para mantimento da essência diante da competitividade arrogante de cada estréia diária. Ah! Se eu fosse Deus, teria suprimido a criação, exceto a dos pirilampos, se não fossem criminosos; longe da esplêndida fosforescência.

Mal o sol brilha e me convence de que devo continuar. Devo lutar. Devotar aos inimigos à paz requintada do inferno que brota da indiferença. Se sofrer ou não sofrer é vago quando tudo passa, tudo se move, é movimento insensível em busca da produção concreta. Devo defender-me dos tolos e mesquinhos com as armas da timidez e do silêncio. E esperar. Esperar heroicamente o fim. O fim determinadamente produzido desde o início do verbo.

Esperar a vez na grande fila dos passos perdidos.

************