Amigo Secreto

Fim de ano chegando e o burburinho para se organizar amigo secreto ou amigo oculto toma conta de escritórios, lojas, salas de aula, famílias e por que não políticos, presidiários, quadrilha, astronautas em missão, enfim, qualquer grupo de pessoas pode organizar essa brincadeira. Há também quem prefira organizar amigo da onça, mas desse nunca participei nem pretendo participar, afinal amigo assim já tem por todo o canto e ainda ter que receber presentes de um. Imagino como seja amigo da onça do Congresso.

— Meu amigo da onça é... o Epaminondas!

O coitado do Epaminondas nem sonha o que ganhará. Ele abre o embrulho e encontra...

— Algemas?

— Você ta preso, seu ladrão! – disse o amigo da onça.

— Mas foi você que me deu o dinheiro! – esbravejou.

— Na gravação só aparece você! Veja pelo lado bom, você apareceu na televisão em horário nobre.

Melhor nem saber o final desse amigo da onça.

Nos próximos dias participarei de um amigo secreto ladrão, desse nunca tinha participado, mas pelo que me explicaram todos os presentes ficam no mesmo lugar e se sorteia na hora e dá qualquer presente, ou seja, você rouba o presente que outro comprou. Entre pessoas civilizadas pode dar certo, mas não acredito que funcione com o pessoal do morro, os que comandam e mandam até no governador. Imaginem o chão cheio de armas, munições, granadas, papelotes disso e daquilo.

— Meu amigo secreto é... o Pileque – disse o mais novo do comando, que tirou o chefão do tráfico.

— Ô sangue bom, torça para que você me dê no mínimo uma AK-47, senão...

O rapaz pegou um presente e deu pro Pileque que abriu e ganhou uma...

— Espingarda? Quem foi o louco que me trouxe uma espingarda do século passado? Este nego vai morrer hoje! – nervoso, ele pega a espingarda e dá um tiro pro céu.

Mais uma bala perdida.

Voltando ao mundo real, ou será que real é esse mundo do crime, da injustiça e iniqüidade? Enfim, voltando para o mundo que está a uma distância razoável daquele mundo. Temos duas realidades possíveis nesse universo do amigo secreto. Os menos favorecidos tem o costume de fixar o preço do presente em R$ 1,99, no outro pólo os mais favorecidos fixam em R$ 1.990,00. Será isso uma verdade absoluta? Nem sempre, mas as proporções são mantidas, ou seja, até os menos favorecidos sabem que com R$ 1,99 não se compra um presente digno para se confraternizar e os ricos também não gastam tudo isso, apesar de que não é impossível alguns milionários brincarem de trocar helicópteros, iates, ilhas, ações, enfim, coisas que também são de outro mundo. Fico imaginando misturar esses dois lados da moeda no mesmo amigo secreto. Na verdade já participei de algo semelhante, em que o dono da empresa participou e as faxineiras também, mas os presentes eram chocolates. E não aconteceu de um grande diretor receber um singelo bombom e alguém da expedição ganhar chocolates belgas feitos por monges.

O que vale é a confraternização, a comemoração por um ano de bons resultados, tudo muito bem, tudo muito bom, a paz mundial. O que não é bem assim, amigo secreto ajuda muito a reconciliar certas inimizades, ou pelo menos atenuar. E tem gente na hora do sorteio que não esconde a raiva fazendo com que todos saibam quem foi tirado, ai vem o pessoal negociando para trocar, por que outros também podem tirado alguém indesejável, mas que soube ser discreto na hora de abrir o papelzinho, depois disso não tem mais jeito, o secreto passou longe e acaba tudo em pizza, como sempre.

04/12/09

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 04/12/2009
Código do texto: T1959773
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