Todos queriam o Mazzaropi

Taubaté contava com vários cinemas: Metrópole, Palas, Urupês, Odeon e Boa Vista. Durante a semana todos eles tinham uma sessão às 20 horas e aos sábados e domingos, para alegria da criançada, havia as matinês. E aquelas do cine Palas eram as mais freqüentadas.

Entrávamos na sala de projeção munidos de saquinhos de balas e pipocas. Com as luzes ainda acesas, podíamos ver a agitação instalada. Muita gente correndo pra lá e pra cá tentando arranjar um bom lugar para sentar - para enxergar bem ou ficar perto dos amigos.

Quando a sala escurecia, gritaria geral. Moleques batiam os pés no chão acompanhados de palmas. Todos assobiando. As meninas comportavam-se melhor, mas gostavam de ouvir a folia.

De repente algumas imagens em preto e branco surgiam, junto a um ronco esquisito. A voz do locutor sobressaía. A molecada sossegava, parava de bater os pés. Pensávamos que o filme ia começar, mas logo em seguida tudo se embaralhava e a tela escurecia. Sobrava só um facho de luz vindo de uma janelinha lá em cima, passando sobre nossas cabeças. Então um círculo iluminado rodopiava na tela.

Às vezes as imagens retornavam logo, assim como a voz inflamada daquele homem. Às vezes tudo empacava e as luzes se acendiam. A gritaria e os assobios recomeçavam. Assim mesmo conseguíamos ouvir ruídos de máquinas lá no alto, dentro de uma cabine.

Quando tudo estava acertado, a sala escurecia outra vez e o noticiário de Primo Carbonari se iniciava. Inaugurações, corridas no Joquei Clube do Rio, políticos se encontrando em jantares... Ninguém gostava daquilo, engraçadinhos faziam comentários.

Queríamos era ver o Mazzaropi. E quando ele aparecia... que festa!

Nas passagens engraçadas todo mundo gargalhava bem alto. Nos momentos de tensão, sempre havia uma piadinha. Algumas vezes durante a exibição do filme, pipocas caiam na minha cabeça. Furiosa, eu olhava para trás, mas no escuro não conseguia descobrir quem as havia atirado.

Passando todos os dias diante do cinema ficávamos de olho nos cartazes pregados em cavaletes na calçada. Além do Jeca calçado de botas e com andar de pata choca, anunciavam Roy Rogers empinando seu cavalo; Fernandel vestido de padre; um moço bonito que se dizia “comprador de fazendas” ; uma bela mulher dançando com véus a lhe cobrir o rosto, talvez a Rainha de Sabá...