TROGLODITAS...

Quando falamos em trogloditas, logo vem a idéia dos homens das cavernas, aqueles que lutavam por comida, por espaço geográfico, por hegemonia em castas, pela manutenção de controle sobre as fêmeas, isto porque viviam em épocas remotas, onde a espécie humana não possuía evolução suficiente para se ver livre de certos costumes que eram bem semelhantes aos seres irracionais, eis que somente os animais ainda não conseguiram chegar a um estágio de evolução, porque não possuem aquilo que Deus deu de melhor, que é a inteligência e a alma.

Entretanto, em pleno século XXI, ainda vemos muitos trogloditas por aí. Uma espécie dessa raça préhistórica é vista em alguns setores das torcidas organizadas do futebol nacional, pois quem possui um pouco de sensibilidade e um pouco de raciocínio jamais agiria como alguns brutamontes, quando representando uma paixão por determinado time de futebol, tornam-se seres da mais baixa espécie da raça humana. Esses tais torcedores são daqueles que não mensuram, que não pensam, que não visualizam uma realidade fática, pois o passionalismo toma conta de suas ações, por isso agridem, esbravejam, praticando atos indignos de ser creditados a um ser munido de inteligência e de raciocínio.

O fato que foi vivenciado ontem em São Paulo, quando um grupo de torcedores do Palmeiras atacou Vagner Love, quando este ia a um banco, resumiu-se em mais um episódio de resultado trágico para quem vê o abismo que está sendo projetado na mente humana, ao crucificar apenas um jogador pela má performance de um elenco. É certo que tal jogador é a "estrela" do time e certamente acumula um salário bem mais polpudo que os demais jogadores desse escrete. Mas daí exigir-se que só esse atleta resolva o problema do time é uma análise por demais esdrúxula e sem nexo. Não vi ninguém se revoltar e contestar determinadas atitudes de um dirigente do Palmeiras, tempos atrás, quando se indispôs com toda a imprensa Nacional, através de manifestações um tanto quanto impróprias para um comandante de futebol. Não vi a torcida fazer uma análise aprofundada dos problemas que atingiram esse time de futebol nas últimas semanas, para ver de onde vem seu declínio, pois começou com a contusão de jogadores importantes do elenco e também com as convocações para a seleção brasileira.

Não se exige que tais torcedores sejam peritos em análise de grupo, para enxergarem que um elenco só é forte quando está em sintonia no coletivo. Entretanto, fazer cobranças sobre um único jogador é querer exercitar a ordem do "olho por olho, dente por dente", através de uma visão estrábica do problema, ao crucificar alguém injustamente, quando se observa que o problema vem de outras fontes não catalogadas.

Para ilustrar essa questão cito o caso do jogador Adriano do Flamengo. Esse jogador, além do seu talento, só está jogando bola e sendo o artilheiro do seu time, porque caiu nas graças do grupo de jogadores, ou seja, conta com a simpatia de todos e por isso está alcançando o sucesso. Isso não quer dizer que Vagner Love tem de fazer a mesma coisa, posto que também é um ser humano, além de jogador. Ninguém sabe o que ocorre dentro do CT de treinamentos. Geralmente, em certos casos, o jogador "estrela" ao invés de ser adorado é odiado por outros jogadores do time que não são pagos com a mesma moeda. Esse detalhe, por si só, é mais separatista do que agregador. O jogador que é atacante necessita de ser trabalhado por seus parceiros dentro de campo, sob pena de não ter o sucesso de chegar ao gol.

Não sou palmeirense e nem acompanho de perto os trabalhos desse time. Entretanto, sempre que vi jogos do Palmeiras, vi Vagner Love correndo e se dedicando ao máximo dentro de campo. Aliás, sua característica é exatamente essa, ou seja, correr muito. Se não faz tantos gols, isso é outro detalhe, até porque ele já foi da seleção brasileira e também não fez os gols que eram esperados, mas nem por isso observamos os torcedores atacá-los com agressões ou coisas do gênero. A opção de formação do elenco é exclusiva dos dirigentes. São eles que escolhem o centroavante e também os meios campistas que, em tese, irão fazer as jogadas que chegarão aos pés do artilheiro.

Outro fato que chama a atenção nessa atitude dos torcedores é o contraste entre o que aconteceu dentro de campo no domingo passado e o que ocorreu na terça-feira, quando ocorreram as agressões a Vagner Love. Protagonizou-se a mais bela jogada e o mais belo gol dos últimos tempos, na jogada certeira e de rara beleza, executada por Diego Souza, deixando o Palmeiras com possibilidade de ainda chegar ao título, entretanto, nada disso foi suficiente para serenar o coração desses trogloditas que atacaram Vagner Love.

Se pedíssemos uma horinha para sentarmos no divão de Sigmund Freud, ele próprio teria dificuldade em explicar a truculência de tais torcedores, pois parecem que agridem apenas pelo prazer de agredir, já que não se explica com lógica determinados atos. Torcer, a meu ver, é ato de descontração e de felicidade. Ódio e rancor, só são explicáveis na mente daquele que não sabe se divertir. Futebol é diversão, exatamente, porque existe três tipos de resultados: vitória para um; vitória para outro; e o empate. É exatamente essa a graça do futebol, por existir - além da vitória; a derrota e o empate, já que se fosse somente vitória, tudo perderia a graça.