Compreender é preciso.

Um dia, em conversa na clínica em que presto serviços, conversávamos sobre relacionamentos. Demos boas risadas ao lembrarmos que é maravilhoso o inicio de um idílio, pelo menos a maioria dos relacionamentos que podem ser classificados como idílio, já que nesse momento só existem caminhos abertos, espaços para ser ocupados por quem está envolvido na relação. A coisa muda radicalmente de figura quando o que era idílio, por este ou aquele motivo, não vingou. Deixou de continuar percorrendo o caminho tão auspicioso que se projetava diante dos enamorados.

Quando se trata de pessoas maduras, conscientes do amor que tem por si mesmas, pessoas que entendem o Outro como uma individualidade, e não como istmo de seu próprio continente, as coisas se processam com razoável naturalidade e, o que era uma relação amorosa passa a ser uma relação de amizade,cada um procurando entender as razões do Outro, sem nunca procurar impingir as suas próprias. Este seria o cenário ideal. Entendemos que um dos parceiros (ou mesmo os dois) que constituíram uma relação que se desfez, certamente irá sofrer. Mas, se tiver grandeza de alma quererá sempre o melhor para aquele que compartilhou momentos importantes de sua vida, e respeitará a decisão tomada por aquele (a) que tanto amou, evitando a tradicional queima do Judas, tão deprimente e apequenadora.

O que vemos sempre ocorrer, e este é o ponto central desta presente reflexão, é um dos parceiros munirem-se de todas as pedras possíveis e imagináveis e apedrejar aquele, ou aquela, a quem jurava amor incondicional até bem pouco tempo, em agressões gratuitas e injustificadas. Numa avaliação isenta, percebemos de imediato que quem age assim tem uma noção deturpada do que é amor, e mais ainda do que seja incondicional, dado que não é nada aceitável entender como normal, atitudes desse naipe. A melhor atitude para qualquer um que se veja em situação análoga, é lembrar com muito carinho dos bons momentos que viveu junto do parceiro (a),curar as próprias feridas e entender os motivos que tenham levado ao rompimento, extraindo com isso lições que só o (a) farão crescer, emocional e espiritualmente. Ódio e ressentimento não conduzem ninguém a um lugar melhor; apenas deixam um gosto amargo na boca de quem os pratica. Não é nada fácil de praticar, mas o aconselhável, tanto para quem atinge como para quem recebe as farpas, é praticar a elevada arte da compreensão, encontrando uma maneira de tocar a vida pra frente sem tropeçar nos obstáculos do caminho.

É sempre mais fácil seguir o caminho largo da pequenez e da mesquinharia do que trilharmos o estreito e espinhoso caminho da grandeza e da superação.

Vale do Paraíba, noite da primeira Terça-Feira de Fevereiro de 2009

João Bosco (aprendiz de poeta)