Diário B
Aqui não há moscas. Nem turistas.
Moramos bem pertinho do céu.
Aqui, no velho J. K., do OmNipresente Arquiteto, O. NI. , onde as formigas dia e noite esculpem aquilo que O Artista não previu. Às 6 começa tudo, o sol penetra por todas as fissuras da persiana de aço de fora que O Único perpetrou.
Viajo pela luz. A um lado os conglomerados de edifícios erguendo, na inconsciência, a desarmonia. Do outro, repetindo-se, a dissimetria sem fim, até as pequenas casas aconchegadas ao morro do monte que abriga. Cada dia, pela tarde já, desde o 26, pouco antes das 6, tudo se incendeia, e as montanhas que abraçam toda essa imensidão tomam as cores do Cezanne. Viajo pela luminosidade: desde o quarto no que escrevo, em baixo, assistindo à epifania que a vidraça, de parede a parede, traz: invadido pelo resplendor, subo, desvelando-se a origem vermelha do milagre dessa luz: a bola incandescente do sol sumindo trás as velhas montanhas que, uma a outra, mão no ombro, a cada indivíduo em brasa, de todo um mar de população, abraçam, com esse inaudito belo horizonte.
Também não tem mosquitos astronautas.
24, 26, de outubro
B. H.